O Sagrado na História é uma publicação da Ediouro Duetto Editorial a partir de artigos publicados na revista História Viva.
Volumes: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo e Budismo
(nas bancas de jornais)
Estudo comparado e abordagem interdisciplinar da história das religiões, crenças, manifestações e idéias religiosas.
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O Sagrado na História é uma publicação da Ediouro Duetto Editorial a partir de artigos publicados na revista História Viva.
Volumes: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo e Budismo
(nas bancas de jornais)
A plausibilidade da Ordo Amoris espírita no contexto da crise ética contemporânea
Tese de doutorado em Ciência da Religião (UFJF).
Data da defesa: 11/03/2009.
Resumo: Diante da crise mundial da ética na contemporaneidade esta tese busca equacionar em que medida o Espiritismo, religião que nasce em 1856 na Europa e hoje tem sua maioria de adeptos no Brasil, propõe alternativas plausíveis capazes de alimentar a esperança de uma outra globalização possível. Com ênfase na ética do amor, o espiritismo tem uma visão de sociedade que se contrapõe ao atual estágio do capitalismo mundial e a ideologia materialista que o legitima e idolatra novos deuses: a tecno-ciência, o sistema de mercado e o dinheiro. Além disso, como herdeiro de Comenius, Pestalozzi e Rousseau, Allan Kardec desenvolveu uma visão pluralista das religiões e legou um verdadeiro campo aberto ao diálogo entre as diferentes tradições espirituais da humanidade. Esta tese faz um exercício de diálogo entre a mensagem de Buda e a de Jesus, no âmbito do espiritismo, e avalia em que medida o amor seria uma resposta ecumênica aos desafios éticos da globalização. Quem ama dialoga, e só quem dialoga é capaz de amar. O diálogo entre as religiões surge como uma alternativa de sobrevivência humana a partir da valorização das diferenças e do combate aos fundamentalismos de todo tipo.
Rede Globo – Série Sagrado
Revista Lusófona de Ciência das Religiões
Ano V - 2007 n.11
O Budismo uma proximidade do Oriente: ecos, sintonias e permeabilidades no pensamento português
IHU (04/09/2009): Disciplina, harmonia e equilíbrio: as religiões chinesas e a construção da paz. Entrevista especial com Adriano Jagmin D’Ávila: "O fanatismo (religioso) existe porque faz as pessoas verem o que não há de comum, e aí surgem as divergências e as intolerâncias. Isto é uma grande contribuição do espírito chinês e do espírito confucionista: fazer as pessoas ponderarem que podem ser mais sábias, e assim estarão
JB, Caderno Idéias (29/08/2009): Buda para crianças, de forma didática - Pág. 8: O escritor, autor de teatro e jornalista Bruno Pacheco pratica meditação, estuda budismo há quase 20 anos e costuma escrever, para crianças, sobre o seu tema predileto – o mundo surreal das fábulas e lendas do Oriente. Com sua assinatura e ilustrações de Lu Martins, Sidarta para jovens acaba de sair. Escrever a biografia de Buda, um tema complexo, em estilo simples e acessível, é uma tarefa ambiciosa que poucos autores conseguem. De forma didática, Bruno Pacheco explica, logo no início do livro, que existem histórias antigas mas aquela que ele vai contar é ainda muito mais velha. >>> Leia mais, clique aqui.
CONHECENDO O BUDISMO - Origens, crenças, práticas, textos sagrados, lugares sagrados
Autor: Malcolm David Eckel
Editora: Vozes (2009)
Sinopse: Este conciso volume oferece um acessível e abrangente introdução aos temas-chave da fé budista - a vida do Buda, ensinamentos espirituais e éticos, rituais e cerimônias, arte e arquitetura, textos sagrados, carma, meditação e iluminação, morte e vida após a morte. Ele traça a trajetória do Budismo, desde as suas origens na Índia antiga até seu lugar na atual sociedade ocidental, oferecendo um panorama único desta riquíssima tradição - uma maravilhosa introdução para aqueles que desejam familiarizar-se com o espírito do Buda.
Budismo perde seu lugar no Japão
Jornal do Brasil, em 20/07/2008.
THE NEW YORK TIMES
– É a imagem do budismo funeral: a de que não chega às necessidades espirituais das pessoas – destaca Ryoko Mori, sacerdote-chefe do Tempo Zuikoji, prédio de mais 700 anos, no norte do Japão. – No islã ou no cristianismo, há sermões sobre questões espirituais. Mas no Japão, poucos sacerdotes budistas o fazem.
Mori, de 48 anos, é o 21º sacerdote-chefe do templo, mas não tem certeza se haverá um 22º.
– Se o budismo japonês não fizer nada agora, vai morrer – diz. – Não podemos pagar para ver na espera.
Por todo o Japão, o budismo encara uma confluência de problemas, alguns típicos de religiões em nações ricas, outros únicos à fé daqui.
A falta de sucessores a cargos como o Ryoko Mori põe em risco templos administrados por famílias em todo o país.
Enquanto o interesse no budismo está em declínio nas áreas urbanas, suas fortalezas religiosas rurais perdem população, com a morte de antigos adeptos e uma taxa de natalidade baixa.
Talvez mais significativo do que isso, o budismo está perdendo sua posição de indústria do funeral, quanto mais e mais japoneses optam por não ter funeral ou seguem para casas especializadas não-religiosas.
Na próxima geração, muitos templos no interior devem fechar, acabando com séculos de história local e somando-se ao êxodo rural.
Em Oga, na península de frente para o Mar do Japão, na prefeitura de Anika, sacerdotes budistas olham para a fria matemática do declínio da população e da pesca.
– Não é um exagero dizer que a população hoje é metade do que foi no seu auge, e que também todos os negócios foram reduzidos à metade – analisa Giju Sakamoto, 74, o 91º sacerdote-chefe do templo mais antigo de Akita, Chorakuji, fundado próximo ao ano 860. – Dada essa realidade, simplesmente insistir em que somos uma religião e que temos uma longa história, e de fato a de Akita é a mais longa, parece um conto de fadas. É sem sentido.
E Sakamoto chega a dizer:
– É por isso que eu acho que esse lugar não tem esperança.
Para sobreviver, Sakamoto põe sua energia na administração de uma casa de cuidados para a terceira idade e um novo templo no subúrbio de Akita. Mas esse templo tem apenas 60 membros desde que abriu há três anos – bem menos dos 300 que precisaria para se manter financeiramente viável.
Por séculos, a média dos templos budistas, cujo controle econômico interno passava de pai para primogênito, serviu como garantia de participação e como forma de proselitismo. E com 300 membros para prover, o sacerdote-chefe e sua mulher ficam muito ocupados.
Não apenas o número de templos no Japão está afundando – de 85.994 em 2006 para 86.585 em 2000, de acordo com a Agência Japonesas de Assuntos Culturais – como também o número de adesões a templos caiu.
– Temos de encontrar outros trabalhos porque apenas o templo não é suficiente – diz a sacerdote-chefe Kyo Kon, 73, do templo com 170 membros Kogakuin. Ela trabalha num centro de cuidados enquanto seu marido está empregado numa escritório de planejamento de manejo do solo.
Não longe dali, em Doshoji, onde hoje há apenas 85 membros anciãos, o sacerdote-chefe, Jokan Takahashi, 59, encara um problema comum a todos os pequenos negócios familiares do Japão: encontrar um sucessor.
Seu filho mais velho passou pelo treinamento para se tornar sacerdote budista, mas Takahashi estava na dúvida quanto a pedir que tome conta do templo.
– Meu filho cresceu conhecendo só o mundo do templo, e me disse que não se sente livre – diz, explicando o filho, hoje com 28 anos, trabalha numa empresa de uma cidade vizinha. – Ele me pediu que o deixasse livre enquanto eu continuasse trabalhando. Prometeu que voltaria quando tivesse 35.
E, depois de mostrar aos visitantes o quarto mais importante do templo, uma câmara em madeira com pequenas cabines semelhantes a escaninhos onde, diz-se, guarda-se os espíritos dos ancestrais dos membros, completa:
– Mas considerando o futuro, pressionar uma um jovem a assumir um templo como esse pode ser cruel.
Preferência por funerárias esvazia os templos
Jornal do Brasil, em 20/07/2008.
Há pouco tempo, numa manhã, Mori, o padre budista do templo de 700 anos, começou o dia com a visita de um adepto agricultor de arroz, a visita marcava o 33º aniversário de morte do avô. Fazendo reverências em frente ao altar, Mori orou e cantou sutras. Mais tarde, repetiu o ritual com outro membro, que comemorava o sétimo aniversário de morte do avô.
Mas cada vez mais, muitos japoneses, sobretudo os que vivem em áreas urbanas, evitam essas tradições. Muitos já não pertencem a templos há muito tempo e usam funerárias quando seus parentes morrem. As próprias funerárias levam sacerdotes budistas às cerimônias.
Segundo um relatório de 2007, divulgado pela Associação de Consumidores do Japão, o preço médio dos serviços para sepultamento, sem contar o cemitério, eram de US$ 21.500, destes, US$ 5.100 para os serviços do sacerdote budista.
Em meados de 1980, quase todos os japoneses faziam velórios em casa ou em templos com o sacerdote budista tendo papel predominante. Mas a mudança para as funerárias acelerou-se na década passada. Em 1999, 62% dos japoneses ainda faziam funerais em templos ou em casa, enquanto 30% escolhiam funerárias, segundo a associação. Mas em 2007, as preferências se reverteram, com 28% dos serviços de sepultamento prestados em casas e templos e 61% optando por casas especializadas em serviços funerais.
Mais: há um número crescente de cremações sem qualquer funeral, diz Noriyuki Ueda, antropólogo do Instituto de Tecnologia de Tóquio e especialista em budismo.
– Por isso, os sacerdotes e templos budistas não se envolvem mais nestes serviços – explica Ueda.
Grande parte do lado espiritual do budismo foi minado por suas ligações com militares na Segunda Guerra Mundial. Depois que os sacerdotes passaram a glorificar soldados caídos na guerra e dar-lhes nomes póstumo budistas especiais, falar sobre pacifismo soava superficial.
O sacerdote Mori diz que a guerra fez aumentar o desejo por funerais excessivos com nomes budistas de prestígio. Esses nomes – cujas maiores posições tradicionalmente eram dadas àqueles que tinha levado vidas honoráveis – são hoje rotineiramente comprados, independentemente de como a pessoa conduziu sua vida.
– Soldados que deram suas vidas pelo país ganharam nomes póstumo budistas especiais. Depois disso, todo mundo queria um e os preços aumentaram dramaticamente – explica Mori. – Todo mundo estava ficando rico, então todos queriam. Isso nos deixou com uma imagem ruim.
Empresa oferece sacerdotes freelancer por preços baixos
Jornal do Brasil, em 20/07/2008.
De fato, a imagem de troca de nomes especiais budistas por dinheiro foi reforçada pelo modo como os serviços funerais e memoriais eram conduzidos. Não se divulgava preços, que eram deixados à discrição da família, mas os parentes sentiam uma pressão tácita por serem generosos. Dinheiro era passado por meio de envelopes e não se dava recibos. Templos, dentro de seu status de organizações religiosas, não pagavam impostos.
Site
Foi em parte para afastar essa imagem que Kazuma Hayashi, 41, sacerdote budista mas que não pertence a nenhum templo específico, fundou três anos atrás num subúrbio de Tóquio a empresa Obohsan.com (obohsan significa sacerdote). A firma envia padres budistas freelance para funerais e outros serviços, sem passar por funerárias e outros intermediários.
Os preços, que são pelo menos um terço da média, estão claramente listados no website da empresa. Para membros cadastrados, há um desconto de 10%.
– Nós damos até recibo – diz Hayashi, que argumenta que em vez de apartar o budismo japonês de suas raízes espirituais, seu negócio atrai mais pessoas pelos preços baixos.
Os nomes póstumos de maior hierarquia saem por US$ 1.500.
– Sei que, originalmente, não é disso que se trata o budismo – Hayashi comenta sobre o nome de preço mais alto. – Mas é uma marca que nossos clientes escolhem. Alguns realmente o querem, o que significa que há um forte desejo quanto a isso, e temos de corresponder.
Reportagem do The International Herald Tribune, em 31/05/2008.
Esta cena dificilmente ocorreria se as autoridades nela envolvidas fossem os generais que mandam em Mianmar: quando um comboio de caminhões levando suprimentos para ajuda humanitária, e liderado por monges budistas, passa pelas vilas devastadas pelo ciclone, crianças famintas e mães desabrigadas saúdam os religiosos inclinando o corpo, em um sinal de súplica e respeito.
"Quando vejo essas pessoas, tenho vontade de chorar", afirma Sitagu Sayadaw, 71, um dos mais respeitados monges de Mianmar.
Na clínica improvisada de Sayadaw, nesta vila próxima a Bogalay, uma cidade no delta do Rio Irrawady situada
Eles remam durante horas no rio de águas agitadas, ou carregam os pais doentes nas costas, caminhando pela lama, debaixo de chuva. Todos viajam quilômetros para alcançar a única fonte de ajuda que conhecem e na qual sempre podem confiar: os monges budistas.
O ciclone de 3 de maio deixou mais de 134 mil pessoas mortas ou desaparecidas e 2,4 milhões de sobreviventes que enfrentam a fome à falta de moradia. Recentemente, as pessoas que se abrigaram em mosteiros ou que se congregaram nas estradas, aguardando pela chegada de ajuda, foram novamente deslocadas, desta vez pela junta, que deseja que elas deixem de ser um embaraço para o governo e exige que retornem para as suas vilas "para a reconstrução".
Mas pouca coisa restou das suas casas, e estes indivíduos encontram-se quase tão expostos aos elementos quanto os seus búfalos cobertos de lama. Enquanto isso, a ajuda externa demora a chegar, já que as agências de auxílio humanitário só obtêm gradualmente acesso à região duramente atingida do delta do Irrawady, e o governo confisca os automóveis de alguns doadores particulares birmaneses.
"Em toda a minha vida, nunca vi um hospital. Não sei onde fica a sede do governo. Não posso comprar nada no mercado, porque perdi tudo o que tinha durante o ciclone", afirma Thi Dar. "Assim sendo, apelei para o monge".
Com lágrimas nos olhos, a mulher de 45 anos junta as mãos em um sinal de respeito perante o monge que entra na clínica, enquanto conta a sua história. Os outros oito membros da sua família foram mortos pelo ciclone. Atualmente ela nutre idéias de suicídio, mas não há ninguém com quem possa conversar sobre isso. Certo dia, chegou à sua vila a notícia de que um monge tinha aberto uma clínica a uma distância de dez quilômetros rio acima. Assim, na última quinta-feira, ela acordou cedo e pegou o primeiro barco naquela direção.
Nay Lin, 36, um médico voluntário na clínica Kun Wan, uma das seis clínicas e abrigos de emergência criados por Sitagu na área do delta, diz: "Os nossos pacientes sofrem de ferimentos infeccionados, dores abdominais e crises de vômito. Eles também necessitam de aconselhamento por causa do trauma mental, da ansiedade e da depressão.
Desde o ciclone, os birmaneses aproximaram-se ainda mais dos monges, e a alienação do povo em relação à junta aumenta. Isso não prenuncia fatos positivos para o governo, que reprimiu brutalmente milhares de monges quando estes saíram às ruas em setembro do ano passado para pedir aos generais que melhorassem as condições de vida da população.
Em todas as vilas atingidas pela tempestade fica evidente quem conquistou o coração do povo.
Alguns monges morreram na tempestade com a população. Agora, outros consolam os sobreviventes, e dividem as moradias enlameadas com eles.
Enquanto o governo era criticado por obstruir as medidas de auxílio humanitário, o mosteiro budista, o centro tradicional de autoridade moral na maioria das vilas desta região, mostrou ser a única instituição na qual o povo pode confiar para obter ajuda.
Os mosteiros no delta - aqueles que ainda estão de pé após a tempestade - encontram-se repletos de refugiados. As pessoas seguem para lá com doações ou como voluntários. Os mosteiros que antes atuavam como centros religiosos, orfanatos e asilos para os idosos, atualmente funcionam também como abrigos para os flagelados.
"O papel dos monges é mais importante do que nunca", diz Ar Sein Na, 46, um monge da vila de That Kyar, na região do delta. "Em um momento de enorme sofrimento como este, o povo não tem ninguém a quem recorrer, exceto aos monges".
Kyi Than, 38, conta que viajou
"O monge da nossa vila morreu durante a tempestade. Hoje estou muito feliz por ter a minha primeira oportunidade de falar com um monge desde a tempestade. Para nós, os monges são como pais", diz ela. "O governo quer que fiquemos de boca fechada, mas os monges nos escutam".
Enfrentando o mais mortífero desastre natural na história recente do país, os monges mais antigos organizaram as suas próprias campanhas de auxílio.
Todos os dias, os comboios deles passam pelas estradas do delta. Uma figura proeminente nesta iniciativa é Sitagu, cujo nome, ao ser proferido por aqui, gera invariavelmente palavras de reverência ou um sinal de "positivo" com o polegar.
"A meditação é incapaz de remover este desastre. Agora o apoio material é muito importante", diz Sitagu. "Atualmente, no nosso país, não existe um equilíbrio entre o apoio material e o espiritual".
Caminhões carregados de arroz, feijão, cebola, roupas, lonas e utensílios de cozinha, doados por pessoas de todo o país, chegam ao Centro Missionário Budista Internacional de Sitagu, em Yangun, no início de cada manhã. Todos os dias, pouco após o nascer do dia, um comboio de caminhões ou uma barca no Rio Yangun segue para o delta, levando suprimentos e voluntários.
Entre os aldeões daqui, Sitagu parece ter tanta autoridade quanto o papa entre os católicos. Quando ele senta-se em um banco de madeira na sua sede de operações de campo, as pessoas fazem fila para demonstrar respeito. Os aldeões vêm para apresentar listas das suas necessidades mais urgentes. Os monges das vilas vizinhas pedem ajuda para consertar os seus templos. As famílias ricas de certas aldeias ajoelham-se diante dele e doam maços de dinheiro.
No entanto, assim como outros monges experientes, ele precisa manter um equilíbrio cuidadoso. Ele conta com a autoridade moral para falar em nome do povo sofredor, mas precisa também proteger os seus programas e hospitais que fornecem assistência médica gratuita aos destituídos, em um país cujo governo reprova tais iniciativas particulares.
Mas, em uma tarde recente, ao falar no seu abrigo, enquanto uma chuva provocada pelas monções batia contra o telhado, Sitagu parecia estar frustrado com o governo. "Não consigo enxergar um líder político verdadeiro no meu país. A 'via birmanesa para a democracia' pregada pelo general Than Shwe?", questiona ele, referindo-se ao líder máximo da junta militar. "O que é isso?"
Ele defende o levante dos monges de setembro do ano passado, afirmando que o fracasso do governo em proporcionar "estabilidade material" ao povo prejudicou a capacidade dos monges de fornecer "estabilidade espiritual".
Entre os monges entrevistados na região do delta e em Yangun não havia nenhum sinal de protestos organizados iminentes.
Mesmo assim, um monge de 40 anos no campo de refugiados de Sitagu diz que "os monges estão bastante furiosos" com a recente medida do governo no sentido de expulsar os refugiados dos mosteiros, das cabanas à beira das estradas e de outros abrigos temporários, ainda que a mídia estatal esteja repleta de artigos que falam sobre os esforços do governo para ajudar os desabrigados. "O governo não quer mostrar a verdade".
Um jovem monge no mosteiro do distrito de Chaukhtatgyi Paya, em Yangun, prevê que haverá problemas pela frente. "Vocês verão certas coisas voltarem a ocorrer, porque todo mundo está com raiva e desempregado", adverte o monge, que conta que participou da "revolução de açafrão", e que traz uma grande cicatriz sobre o olho direito, provocada pelo espancamento que lhe foi aplicado por um soldado.
Um monge do Estado de Mon, no sul de Mianmar, e que está visitando o delta para constatar os danos e providenciar remessas de suprimentos, diz: "Para o governo, estas pessoas não passam de animais mortos nos campos".
O confronto efervescente entre os dois pilares atuais da vida em Mianmar - as forças armadas e o clero budista - é evidente nas vilas após a passagem do ciclone.
Pouco após a tempestade, um monge de Myo Thit, uma vila a
A interdependência entre os monges e o povo é muito antiga. Os monges recebem esmolas - comida, remédios, roupas, dinheiro para comprar livros - dos leigos. Em troca, oferecem conforto espiritual. Nas vilas destituídas de escolas do governo, uma educação monástica é freqüentemente a única disponível para as crianças.
"Existe uma relação de reciprocidade entre os monges e o povo", explica Desmond Chou, um estudioso de religiões comparadas, que nasceu em Mianmar, mas que mora
Budistas depositam papéis com desejos em lanternas.
Encontro para orações celebra o aniversário de Buda.
Budistas depositam papéis com desejos em lanternas durante um encontro para orações em celebração ao aniversário do Senhor Buda no templo Jogye, em Seul, na Coréia do Sul, nesta segunda-feira (12) (Foto: Reuters).
Extraído de:
G1, em 12/05/2008.