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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 9 de fevereiro de 2008

Padre Antônio Vieira e os judeus

Aos estudiosos da obra do Pe. António Vieira, cujo IV centenário de nascimento se comemora neste ano de 2008:

O Centro de Estudos Luso-afro-brasileiros da PUC Minas – CESPUC –, com o apoio do Instituto Camões e do Consulado de Portugal em Belo Horizonte, realizará, de 27 a 29 de agosto próximo, um evento comemorativo do IV Centenário do Pe. António Vieira.

confirmaram presença renomados especialistas na obra vieiriana, como
Alcir Pécora (Unicamp): Indice das coisas mais notáveis em Vieira
João Adolfo Hansen (USP): Pressupostos metafísicos da concepção de tempo e história de Vieira nos sermões e nas obras proféticas
e também Ângela Vaz Leão, Adma Muhana e Maria Theresa Abelha Alves, que estão definindo os temas de suas conferências.

Convidando-o(a) a participar do evento, informamos que:

- além de conferências e mesas-redondas de convidados, a programação prevê a exibição do filme de Manoel de Oliveira Palavra e utopia e também a apresentação de até 24 (vinte e quatro) comunicações, organizadas em 6 (seis) sessões mesas-redondas, nas tardes dos dias 28 e 29.08;

- os temas das comunicações são os seguintes:
1) Profetismo e Messianismo na obra vieiriana
2)
Vieira e o Barroco
3)
Vieira e as Ciências Humanas
4)
O discurso literário de Vieira
5)
Vieira e a ação missionária
6)
Vieira e a exegese das Escrituras
7)
Vieira e o seu tempo
8)
Vieira e os Índios
9)
Vieira e os Negros
10)
Vieira e os Judeus
11)
Vieira político e diplomata
12)
Vieira lido (visto) por outros artistas

- as propostas de comunicações devem conter:
- o título da comunicação;
- o nome do autor, com sua identificação (se professor ou estudante);
- o nome da instituição a que está vinculado (sigla e nome por extenso);
- a indicação do tema em que se insere o trabalho;
- um resumo em até 250 (duzentas e cinqüenta) palavras;
- as propostas devem ser enviadas para cespuc@pucminas.br até o dia 30 de abril de 2008;
- dos trabalhos apresentados no evento será feita uma seleção para publicação;
- as inscrições deverão ser feitas na home page www.ich.pucminas.br/cespuc
- e custarão:
- R$10,00 para alunos de graduação e pós-graduação
- R$20,00 para professores.

Outras informações:
CESPUC –
Av. D. José Gaspar, 500 – prédio 6 – sala 209 (de 13h00 às 17h00, de segunda a sexta-feira) – CEP: 30.535-901 • Belo HorizonteMinas Gerais • Brasil
Fone: (005531) 3319-4368 • Fax: (005531) 3319-4369 e 4904
E-mail: cespuc@pucminas.br
Home page: www.ich.pucminas.br/cespuc

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A mulher na obra de Vieira

Ana Marques Gastão

Por que não evocar Vieira - símbolo do Barroco ibérico por excelência - no dia em que passam 400 anos do seu nascimento, relembrando as suas argumentações perante sexo oposto? Antecipemos, pois, algumas das ideias de um estudo sobre a matéria ainda em fase de provas. O Padre António Vieira e as Mulheres/O mito barroco do universo feminino trata, não do contacto que o jesuíta teve com as mulheres na vida quotidiana, mas do papel assumido por estas, para o bem o e para o mal, na sua obra, sobretudo no sermonário.


Os autores do livro, a publicar, em breve, pela Campo das Letras, são José Eduardo Franco, historiador, poeta e ensaísta, doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, em História e Civilização, e em Cultura pela Universidade de Aveiro, e Maria Isabel Morán Cabanas, professora de literatura portuguesa na Universidade de Santiago de Compostela.


Que pretende, afinal, este longo ensaio? Fornecer dados - alguns deles novos -, para uma melhor compreensão da visão barroca do universo feminino nos sermões de Vieira como expressão de um longo processo de elaboração, ao longo de vários séculos, de uma imagem mítica da mulher.


Já Ana Hatherly, pioneira no tratamento desta temática, escrevera que, do ponto de vista artístico, na cultura ocidental, judaico-cristã, existem dois grandes paradigmas: "o da tentadora, que conduz o homem à perdição, e o da salvadora, que o conduz à redenção."


Se, para a escritora e estudiosa do Barroco,"entronizar a mulher através do platonismo é uma forma de exorcizar pela distância o fascínio erótico que e ela exerce, santificá-la é outra forma de neutralizar o impacte da sua sedução transferindo-o para o plano do aceitável, e até louvável, em termos morais. (Imagens da Mulher, do Humanismo ao Barroco in O Ladrão Cristalino/Aspectos do Imaginário Barroco, Cosmos)".


Ora, no entender de António Vieira, a mulher é capaz dos "actos mais nobres e dos sentimentos mais divinos", podendo "originar os desastres mais graves, as paixões mais avassaladoras e perturbadoras da harmonia pessoal e social", e até ser uma via para a ascensão do homem. Esta visão dir-se-ia, bem ao gosto do Barroco, paradoxal. Explica José Eduardo Franco: "O paradigma mariano pode ser entendido como "a auto-estrada para Deus e o eviano como a "viela para a tentação".


Mas se, no seu sermonário, Vieira, reelaborando a cultura de fundo judaico-cristã e greco-romano, exprime as ideias dominantes e inferiorizantes em torno da condição feminina - a sociedade e a igreja seiscentista eram misóginas -, pressente-se o despertar, quase imperceptível, de uma certa consciência crítica perante o universo feminino, tão triunfante, segundo D'Ors, neste tempo quanto derrotado.


Relembrem-se, no entanto, os dizeres de Vieira, ao gosto da época, mas ainda assim inacreditáveis: "Não quis o Autor da natureza que a mulher se contasse entre os bens móveis. O edifício não se move do lugar onde o puseram; e assim deve ser a mulher, tão amiga de estar em casa, como se a mulher e a casa foram a mesma coisa." Ou: "É tal a inclinação e tão impaciente na mulher o apetite de sair e andar, que por sair e andar deixou Eva o esposo, e por sair e andar deixou a Deus. Oh, quantas vezes, por este mesmo apetite vemos deixado a Deus; e os esposos pior que deixados."


Apesar disso, Vieira muito apreciava mulheres de espírito, cultas, tendo escrito sobre figuras bíblicas, mártires santas místicas, Maria. Uma admiração mútua existiu entre o jesuíta e a rainha Cristina da Suécia, que residiu em Roma depois de abdicar do trono e de se converter ao catolicismo.

A integração comparativa da obra do jesuíta no âmbito do Barroco ibérico é uma das inovações deste estudo que vem a ser preparado desde 2004: "Mesmo assim, Vieira foi um grande cantor do feminino nas grandezas e nas misérias!", comenta o ensaísta. |

Extraído de:
Diário de Notícias on-line, em 06/02/2008.