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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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domingo, 4 de novembro de 2012

A religião (do fiel) que se constitui na internet. Artigo de Antonio Fausto Neto



IHU (31/10/2012): A religião (do fiel) que se constitui na internet. Artigo de Antonio Fausto Neto: Na internet, a técnica não se impõe, mas se interpõe na experiência multissensorial do sagrado. Gera-se uma complexa atividade técnico-simbólica na qual os “bits” são afetados pelos imaginários diversos, mas, também, pela complexidade do mistério. Publicamos aqui um trecho da apresentação de Antonio Fausto Neto, pós-doutor em comunicação e professor titular do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), ao livro E o Verbo se fez bit: A comunicação e a experiência religiosas na internet (Ed. Santuário, 2012), de Moisés Sbardelotto. Fausto Neto é doutor em Ciências da Comunicação e da Informação pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, França, e pós-doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É também cofundador da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós). Eis o texto. >>> Leia mais, clique aqui.

Veja mais:

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O que os santos podem fazer pela antropologia?

SAEZ, Oscar Calavia. O que os santos podem fazer pela antropologia?. Relig. soc. [online]. 2009, vol.29, n.2, pp. 198-219. ISSN 0100-8587.


O que os santos podem fazer pela antropologia?

Oscar Calavia Sáez

RESUMO: O artigo sustenta que os santos podem servir de eixo a uma abordagem mais etnográfica e radical da antropologia da religião. De praxe, essa subdisciplina está excessivamente pautada pelas concepções de apenas um tipo de nativos: teólogos, sacerdotes, especialistas. Doutrinas estabelecidas servem como referência, e a religião comum vira assim uma religião popular, subalterna ou desviante. Os santos, personagens locais que no entanto atravessam fronteiras entre credos e são por sua vez subalternos nas elaborações teológicas, podem ser vistos como atores essenciais dentro de uma rede de relações (do tipo das propostas pela actor-network theory), a unir mitos, devotos, lugares, objetos ou personagens sagrados, rituais, doutrinas e, como um limite externo, Deus. Essa rede, sugiro, deve se reivindicar como objeto prioritário dos estudos sobre religião.

Palavras-chave: santos, Deus, religião, religião popular, mitologia, catolicismo, actor-network theory.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

‘Peço a Deus que me livre de Deus’, pedia Mestre Eckhart

‘Peço a Deus que me livre de Deus’, pedia Mestre Eckhart: Muitas vezes a “representação” que fazemos de Deus acaba por identificar-se com “Deus em si mesmo”. Ou seja, identificamos nossa representação “imanente” com o Deus “transcendente”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, no seu blog, Teología sin censura, 20-10-2010. A tradução é do Cepat. Eis o texto.

sábado, 4 de setembro de 2010

As fés, loucuras do Ocidente

IHU (04/08/2010): As fés, loucuras do Ocidente: O último livro de Emanuele Severino, um dos maiores filósofos italianos contemporâneos, enfrenta os grandes antagonismos sobre os quais se funda a civilização, principalmente cristianismo e islã. Segundo ele, a sua oposição é aparente, pois têm raízes comuns. O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 03-09-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Eis o texto.

sábado, 14 de agosto de 2010

Três leituras do cristianismo

IHU (14/08/2010): Três leituras do cristianismo: Estudos recém-lançados no País, de autoria de prestigiosos historiadores europeus, examinam, sob diferentes pontos de vista, as origens, os primórdios e o desenvolvimento da religião cristã. O artigo é de J. C. Ismael, é autor, entre outros, dos livros Thomas Merton, o apóstolo da compaixão e Iniciação ao misticismo cristão, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 14-08-2010. Eis o artigo.

domingo, 8 de agosto de 2010

Novos “lugares teológicos” para a Teologia do Pluralismo Religioso

Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura. Edição nº 30 - Ano VI - Julho/Agosto 2010: Novos “lugares teológicos” para a Teologia do Pluralismo Religioso: José María Vigil. O artigo discute a relação correta entre Teologia do Pluralismo Religioso (TPR) e Diálogo Inter-Religioso (DIR), pois com muita freqüência se confundem os dois temas. Segundo o autor, a TPR tem finalidade em si mesma, ainda que possa ser útil ao DIR. Todavia, a TPR é necessária e conveniente, não tanto “para dialogar com outros”, mas sobretudo “para dialogar com nós mesmos”, um “intradiálogo”. E só mediante os efeitos desse intradiálogo a TPR poderá ser eficaz para um possível DIR.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Revista IHU on-line: Jesus de Nazaré. Humanamente divino e divinamente humano

Revista IHU on-line: Jesus de Nazaré. Humanamente divino e divinamente humano é o tema de capa da edição 336 da IHU On-Line, de 06-07-2010. Contribuem para a discussão Andrés Torres Queiruga, Jacques Schlosser, Carlos Palacio, Francisco Orofino, Faustino Teixeira e José Ignacio González Faus. >>> Leia mais, clique aqui.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ordenar progredindo: a obra dos intelectuais de umbanda no Brasil da primeira metade do século XX

Anos 90 - Vol. 7, No 11 (1999)

Ordenar progredindo: a obra dos intelectuais de umbanda no Brasil da primeira metade do século XX

Artur Cesar Isaia (UFSC)

Em um estudo sobre a terapia mediúnica praticada no Rio de Ja­neiro na virada do século, Donald Warren fazia menção a uma persis­tência de longa de duração que se afirmava nos significados secularmente compartilhados pela população brasileira. Tratava-se da manutenção de um cotidiano impregnado de sentido mágico, da familiaridade com o mundo dos espíritos e com toda uma gama de manifestações típicas da crença na atuação de "entidades rarefeitas”. Ao meio marcado por tal imaginário, onde o sobrenatural impunha-se como recorrente e no qual espíritos, encantados e orixás povoavam as tramas humanas, o autor referia-se como''espiritualista reflexo". É, justamente, inserida na parti­lha desses significados, em um meio urbano que se afirmava e frente a um mercado religioso que ganhava em complexidade, que a Umbanda vai adquirir visibilidade no Brasil da primeira metade do século XX. A emergência da Umbanda revelava uma religião em torno da qual persis­tiam uma série de significações capazes de remetê-la ao submundo, à marginalidade c à sobrevivência de valores atávicos, denunciadoras do atraso e da ignorância. É nesse contexto que surge a obra dos intelectu­ais da nova religião, inseridos em um esforço visando ao reconhecimen­to social e à ruptura com significações capazes de enxergar na invoca­ção dos espíritos uma incómoda familiaridade com a transgressão. >>> Leia mais, clique aqui.


terça-feira, 15 de junho de 2010

Exus e pombas-giras: o masculino e o feminino nos pontos cantados da umbanda

NASCIMENTO, Adriano Roberto Afonso do; SOUZA, Lídio de and TRINDADE, Zeidi Araújo. Exus e Pombas-Giras: o masculino e o feminino nos pontos cantados da umbanda. Psicol. estud. [online]. 2001, vol.6, n.2, pp. 107-113. ISSN 1413-7372.

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo a caracterização dos Exus e Pombas-Giras, através dos pontos cantados da Umbanda, considerando aspectos que remetem a uma configuração mais ampla de componentes do imaginário social brasileiro. Foram submetidas à Análise de conteúdo 221 letras de pontos de Exu e Pomba-Gira. Os pontos de Exu contêm maior freqüência de menções relacionadas à descrição de poder e funções atribuídas a essa entidade (31,6 po cento das respostas) e à sua identificação e saudação (22,4 por cento). Os pontos de Pomba-Gira apresentam mais freqüentemente a descrição de poder/funções atribuídas (30,23 por cento das respostas) e a caracterização da entidade (30,23 por cento). Os resultados possibilitam relacioar as características das entidades aos papéis socialmente esperados de homens e mulheres. Exu é representado pela liberdade, força e principalmente, pelo trabalho. Pomba-Gira é representada através de atributos considerados típicos do sexo feminino, como beleza e sensualidade, e também pelo trabalho. Os dados remetem a uma análise que procura a articulação entre fatores raciais e de classe social presentes na sociedade brasileira e as características definidoras das entidade, identificadas nos pontos.


Arquivo PDF texto em português


quinta-feira, 25 de março de 2010

As transgressões de Jesus

IHU (25/03/2010): As transgressões de Jesus: Em seu novo livro, El grand secreto de Jesús [O grande segredo de Jesus], publicado na Espanha pela Editorial Aguilar, Juan Arias disseca os enigmas e a marginalidade do profeta de Nazaré. O artigo é de Juan Arias e está publicado no El País, 14-03-2010. A tradução é do Cepat. Ainda se oculta algum segredo nos Evangelhos, os textos mais traduzidos do mundo e sobre os quais já se publicaram milhões de livros? Ainda se pode dizer algo novo sobre Jesus de Nazaré, o profeta maldito, que foi crucificado como louco e subversivo? Jesus sempre foi apresentado como um líder religioso que deu origem a uma nova Igreja, nascida do Judaísmo, o que não é correto. Em momento algum Jesus em fundar uma nova religião, já que ele combatia todas por estarem baseadas na violência e nos ritos sacrificiais, na dor e na falta de liberdade. >>> Leia mais, clique aqui.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O segredo de um fascinante galileu

IHU (11/03/2010)

  • O segredo de um fascinante galileu: Faustino Teixeira comenta o livro Jesús, aproximación histórica de José Antonio Pagola, alvo de intensa polêmica na Espanha. Traduzido em várias línguas, a tradução brasileira deverá ser lançada em breve. Faustino Teixeira, parceiro do IHU, é doutor e pós-doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma. É professor-associado e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPCIR-UFJF), em Minas Gerais. O artigo foi publicado para o portal Amai-vos e nos foi enviado pelo autor. Eis o artigo.
  • O basco Pagola e o norte-americano John P. Meier: John P. Meier (foto ao lado) é um sacerdote católico, especialista na análise dos evangelhos, tendo estudado na Universidade Gregoriana e no Instituto Bíblico de Roma, e agora é professor, dá conferências e escreveu vários livros. José Antonio Pagola (foto abaixo) estudou nessas mesmas instituições e, além disso, na Escola Bíblica de Jerusalém, e também é professor, dá conferências e escreve livros. Ambos coincidem especialmente no fato de terem escrito uma obra sobre Jesus com uma finalidade muito semelhante: uma aproximação histórica. A análise é de Carlos Aizpurua, publicada no jornal Noticias de Guipuzcoa, 10-03-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


terça-feira, 9 de março de 2010

O campo religioso brasileiro: pesquisas e produção do conhecimento – à guisa do crescimento pentecostal

Revista Espaço Acadêmico (março de 2010): O campo religioso brasileiro: pesquisas e produção do conhecimento – à guisa do crescimento pentecostal: Este artigo aponta as mudanças recentes no campo religioso brasileiro e a forma como elas foram captadas pela academia. A produção acadêmica sobre religião é intensa e plural. O debate em torno de um possível encantamento, desencantamento e reencantamento, transversalmente cortado pelas idéias de secularização e racionalização, tem sido basilar em toda a discussão. O pentecostalismo tem ocupado um lugar privilegiado, sobretudo por seu vertiginoso crescimento e pulverização nos espaços públicos e laicos. Tudo isso é uma tentativa de compreender as variações da religião na contemporaneidade e a forma em que ela tem se inscrito na história; ainda mais, a maneira como ela modifica a realidade, forja comportamentos e instaura identidades no seio da sociedade brasileira.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Martinho Lutero e a Igreja Católica. Artigo de Otto Hermann Pesch

IHU (03/03/2010)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O itinerário da fé na religiosidade do povo brasileiro

Revista Espaço Acadêmico, nº 105, fevereiro de 2010

O itinerário da fé na religiosidade do povo brasileiro

Paulo Passos

Resumo: No Brasil religião e identidade cultural se imbricam num mosaico simbólico. Nesse processo histórico, no qual a igreja foi à bússola que orientou os rumos do nosso passado, em boa medida continua sinalizando perspectivas e orientações. Contudo, até 1889, a Igreja Católica reinava absoluta no seu monopólio religioso. Apesar de existirem alguns pequenos grupos denominacionais, seus ritos eram privados e não proselitistas. Várias tentativas foram empreendidas no sentido de suplantar a hegemonia católica no Brasil. Porém, a reação da Igreja em assegurar seu mercado foi intensa. Nesse emaranhado de disputas no campo religioso brasileiro o percurso foi tortuoso, mas rico em historicidade

Texto Completo: PDF

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Por entre ciências, filosofias e religiões: alguns apontamentos históricos do contexto de nascimento e afirmação da chamada Doutrina dos Espíritos


Por entre ciências, filosofias e religiões: alguns apontamentos históricos do contexto de nascimento e afirmação da chamada Doutrina dos Espíritos


Marcella Albaine Farias da Costa

(Estudante de graduação em História/UFRJ)

Versão de Janeiro de 2010.


“(...) o Espiritismo estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender. Ora, para compreender há que usar o raciocínio. Por isto procura dar-se conta de tudo antes de nada admitir, a saber, o porquê e o como de cada coisa. Assim, os Espíritas são mais céticos do que muitos outros, em relação aos fenômenos que escapam do círculo das observações habituais”. Revista Espírita – Fevereiro de 1867



Entender um fenômeno da contemporaneidade – a notável expansão do movimento espírita, especialmente em território brasileiro – nos desperta, ainda que em intensidades variáveis, certa curiosidade sobre as proposições e idéias primeiras da chamada Doutrina dos Espíritos.


Para o francês Michel de Certeau, autor trabalhado na esfera teórica metodológica da História, o conhecimento histórico é fruto de um trabalho, de uma construção, de uma operação que se opõe a uma postura de apenas “dar voz ao passado”, de apenas narrar seus acontecimentos. Em muitos campos do saber humano, aquilo que se verifica – por parte de muitos – é um comportamento acrítico, sem o necessário aprofundamento de pontos relevantes que passam a ser apenas superficialmente perpetuados ao longo do tempo. Assim, um primeiro ponto que merece destaque é justamente a idéia defendida pelo ilustre pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, organizador da Doutrina Espírita: “antes de crer é preciso compreender. Ora, para compreender há que usar o raciocínio”. Acrescentaria que para o uso deste, é indispensável a apreensão de fatos, contextos e personalidades – e, nesta tarefa, a História serve como grande aliada.


Codificada na centúria do XIX, França, a Doutrina Espírita é entendida enquanto filosofia, ciência e religião. Abraçada por uns, rejeitada por outros e, indubitavelmente, desconhecida por muitos, a mesma guarda – como foi dito, e apesar dos esforços de alguns estudiosos – necessidade salutar de análises que se pretendam efetivamente históricas. Portanto, supõe-se clara a intenção destas breves linhas, qual seja a de trazer algumas informações e apontamentos para o leitor sobre os meandros espaço-temporais do período de nascimento e afirmação do Espiritismo através de sua eminente figura: Allan Kardec, pseudônimo de Denizard Rivail.


Contemporânea de doutrinas outras – que serão trabalhadas posteriormente – o Espiritismo surge após um longo período de embate entre um passado ditado pela simples “vontade de Deus” e um ideal racional em despertar – afirmando o segundo, como pode ser notado pela transcrição contida na primeira página.


A Filosofia de Descartes (esta mesma antes considerada como um conhecimento especulativo), cuja máxima “Penso logo sou” ficou bastante conhecida na História, traduz exatamente o ideal racional que ia mostrando seus primeiros passos ainda no XVII. O Iluminismo, no século seguinte, representa o instante de triunfo de tal ideal e o XVIII passa a ser designado de Século das Luzes; a razão torna-se, pois, sinônimo e/ ou síntese de dita sociedade pretendida científica. O conhecimento especulativo foi sendo cada vez mais deixado de lado, pois os vocábulos objetivo e método tornam-se palavras mestras; para fazer ciência era preciso, a partir de então, responder a uma série de fatores: verdade, validade, objetividade, universalidade, previsibilidade etc. Experimentalismo e aproximação com as chamadas ciências naturais também foram características marcantes


E o quê representa o advento do século XIX que é aqui focado? Quais as perspectivas e ideologias que se afirmam neste despertar? O cenário europeu tem, ao longo do período oitocentista, a afirmação de um novo paradigma: o progresso. Como visto, foi o momento de triunfo do racionalismo e da ciência; da física social de Auguste de Comte, das propostas de estudo das questões sociais em consonância às ciências exatas e biológicas; dos trabalhos de Karl Marx, que pretende apreender o próprio sentido da História em sua totalidade, ou seja, usa de um grande arcabouço teórico para procurar dar conta de todos os âmbitos da vida social. Marx em sua obra “A Ideologia Alemã” despreza a filosofia idealista de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, para quem a realidade se desenvolve enquanto manifestação da razão. Assim, o estudo da natureza passa a ser canalizado não apenas para a pesquisa do próprio homem, como também para suas relações sociais: de uma lado, a doutrina positivista mostrava o caminho pra tal fim; de outro, os evolucionistas afirmavam que a evolução era estabelecida a partir de uma linha única, ela “teria raízes em uma unidade psíquica através da qual todos os grupos humanos teriam o mesmo potencial de desenvolvimento, embora alguns estivessem mais adiantados que outros”, portanto “cada sociedade seguiria o seu curso histórico através de três estágios: selvageria, barbarismo e civilização” (Laraia, 2006, p.114).


O século XIX foi também a época das propostas de Gobineau, das buscas pelo melhoramento racial, do darwinismo social de Herbert Spencer e da seleção natural dos “mais aptos” e, entre outros, da antropologia criminal. E em outros campos? Quais outras informações temos? No âmbito artístico destaca-se o Romantismo, o Realismo e o Impressionismo.


Refletindo a instabilidade política da França no século XIX, quando sete regimes políticos se instalaram alternando expressões de autoritarismo e liberalismo, vemos os movimento artísticos então implantados evidenciarem a pluralidade de suas questões estéticas numa dinâmica transformadora e constante. Esses movimentos não se superpõem, não surgem numa cronologia absoluta, um após o outro. Eles vão aparecendo, muitas vezes, num mesmo momento; irradiam-se concomitantemente, porém um ou outro vai tomando maior força e dominando aquela época; é apenas uma questão de predominância de tais ou tais características (Augusto & Freitas, 2004, p.101 - 102).


Quanto ao cenário político, dois grandes marcos são o início do império napoleônico a 2 de dezembro de 1804 e a instauração da Comuna parisiense após a perda na guerra contra a Prússia nos anos 1870-1871. Diz Rodrigo Bentes Monteiro:


Tendo apresentado diferentes fases – o Primeiro Império, a restauração monárquica, o reinado de Luís Filipe, a república após 1848, a ascensão de Luís Napoleão e o Segundo Império, além da própria Comuna – este tempo pode ser considerado como um período de aprendizado político, imediatamente posterior à Revolução iniciada em 1789. As experiências diversas, desse modo, indicam permanências e novidades em relação ao passado do Antigo Regime, experiências políticas muitas vezes contraditórias entre si. Este período ao mesmo tempo inovador e restaurador de impérios autoritários e movimentos libertadores, pode ser caracterizado como uma grande ‘re-evolução’, de acordo com o sentido original da palavra (...). Na Terceira República, surgida da derrota da Comuna, renasciam os princípios do movimento começado em 1789, após os tumultuados anos que caracterizariam a vida política e social francesa com grandes influências no continente europeu e no mundo. (Monteiro, 2004, p. 129)


Por fim, não se pode deixar de mencionar as ações urbanístico-modernizadoras propostas para a Paris de meados do XIX por Napoleão III, levadas a cabo por Georges Eugène Haussmann. É nítido que os ideais industrializantes têm conseqüências sobre a esfera espacial e temporal; se por um lado há o esforço na articulação de vias públicas, praças e jardins, por outro, acontece o saneamento do espaço urbano por intermédio de ações higiênicas.


Diante das exposições acima, abre-se caminho para análise mais efetiva da figura de Hippolyte Léon Denizard Rivail.


É neste século rico e denso que nasce, a 3 de outubro de 1804, Denizard Rivail. Filho de Jean Baptiste-Antoine Rivail e Jeanne Louise Duhamel, passa a adotar em um período posterior o pseudônimo de Allan Kardec. Nascido em Lyon, Denizard completa seus estudos em Iverdon/ Suíça com Johann Heinrich Pestalozzi – cuja eminência e influência sobre sua pessoa reclamam um trabalho à parte.


Estudiosos da área da Pedagogia afirmam ser Heinrich influenciado, em grande medida, pelos trabalhos de Jean-Jacques Rousseau cuja renovação da sistemática político-social de seu tempo é evidente. Este, por sua vez, simpatizava com os ideais do protestante Jan Amos Comenius, como o de melhoria do sistema educacional e de direção deste para todos. Pestalozzi valorizava a individualidade do educando; para ele, seria a partir de ações vividas e sentidas a maneira pela qual a criança iria formular idéias, palavras e definições. Rivail torna-se colaborador ativo e propagador do método pestalozziano; aprende com este métodos de pesquisa e observação.


Segundo a pesquisadora e Doutora em Educação Dora Incontri, “mais sabemos de Kardec pelo que ele nos oculta, do que por informações a respeito de si mesmo e de sua vida pessoal” (Incontri, 2004, p. 19). É certo, porém, sua posição de intelectual, de homem da ciência em constante busca do conhecimento – figura de destaque na França do XIX.


A historiadora Sylvia Damazio defende que, como August Comte, Kardec entende que o progresso do ser humano se realiza através de etapas sucessivas e necessárias. Todavia, para o primeiro, a trajetória evolutiva do homem tem seu começo e fim no mundo físico, já para Rivail, “a evolução transcende a matéria e desdobra-se pela vida espiritual”. Não se opondo ao materialismo científico, ele o absorvia e o ultrapassava ao dizer que “o Espiritismo marcha ao lado do materialismo no campo da matéria; admite tudo o que o segundo admite, mas avança para além do ponto onde este último pára” (Damazio, 1994, p. 30).


Em 1854/ 1855 Kardec toma contato, pela primeira vez, com o chamado fenômeno das “mesas girantes”, cujas origens remontam a 1848, Hydesville/ EUA, através das irmãs Fox. Interessado pelo Magnetismo de Franz Anton Mesmer – chegado à cidade parisiense em 1778 – e pelos estados de ações sonambúlicas, Kardec é convidado por um amigo a participar de uma sessão das “mesas que falam”, despertando seu interesse pelo estudo do fenômeno a partir de um embasamento científico.


Tendo iniciado suas pesquisas em 1854, Kardec adota um método empírico-racionalista na análise e no controle dos chamados “fenômenos mediúnicos” e ordena os resultados obtidos, configurando com tudo isso a Ciência espírita. Na interpretação desses resultados, propõe a Filosofia espírita, cujas conclusões morais, tiradas dessa concepção filosófica, são a Religião espírita. Portanto, para os espíritas, a doutrina possui um tríplice aspecto (Colombo, 1998, p. 43)


Dora Incontri, no recurso audiovisual (DVD) chamado “Allan Kardec, o Educador” informa que em 1857, a 18 de abril, são apresentados ao público “O Livro dos Espíritos” e seu autor em uma livraria na Galerie d’Orléans no Palais Royal (Paris), “memória viva do Espiritismo”. Já no primeiro dia do ano seguinte (1858) é lançada a Revista Espírita (Revue Spirite) que mostra entre outras coisas, a trajetória do pesquisador Kardec e seus diálogos com alguns de seus contemporâneos.


No primeiro de abril também de 1858 é fundada, em Paris, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (Societé Parisienne des Études Spirites) que, como o próprio nome diz, tinha no estudo dos acontecimentos espíritas seu objetivo central. Como reação do Catolicismo à nova crença, cerca de 300 obras espíritas são queimadas em Barcelona (em 1861), todavia, segundo alguns, tal feito teria ajudado na propagação de seu ideal.


Deixando como obras básicas “O Livro dos Espíritos” (1857), “O Livro dos Médiuns” (1861), “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (1864), “O Céu e o Inferno” (1865) e “A Gênese” (1868), Allan Kardec tem seu período de vida enquanto tal encerrado em 31 de março de 1869. Amélie-Gabrielle Boudet, com quem havia se casado em 1832, dá continuidade ao trabalho de divulgação e expansão da Doutrina.


Ao término de todos estes apontamentos, espera-se que pontos relevantes tenham sido levantados. Muitos dos mesmos poderiam ser aprofundados, e assim o devem ser em uma oportunidade próxima. A fim de que a leitura não se torne enfadonha e improfícua, vale uma última questão.


Como foi dito na introdução, o movimento espírita vem ganhando notável força no Brasil, fato que não pode ser ignorado e, por isso mesmo, necessita ainda de muitos estudos no campo da História das Religiões e Religiosidades. Se abraçada por uns, rejeitada por outros e, desconhecida por muitos, espera-se que este artigo tenha colaborado, evidentemente reconhecendo seus limites, a reduzir este último dado. Explica-se que não do ponto de vista doutrinário em si, cuja complexidade também pediria um trabalho a parte, mas sim, do reconhecimento da fundação da Doutrina como algo que fez parte da História – sendo algo, em realidade, pouco falado.


REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS:

- AUDI, Edson. DVD: Allan Kardec, o Educador. Brasil: Vídeo Spirite, 2006.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- AUGUSTO, Cleone; DUBS, Fabio; FREITAS, Iole de; HILLESHEIM, Maria Elisa; JESUS, Edgar Francisco; JESUS, Verônica Cardoso; MONTEIRO, Rodrigo Bentes; NUNES, Beatriz Helena; SCHNEIDER, Maria dos Carmo; SOUZA, Elizabeth Pinto; VALLE, Nadja do Couto. Em torno de Rivail. São Paulo: Lachâtre, 2004.

- COLOMBO, Cleusa Beraldi. Idéias Sociais Espíritas. São Paulo/ Salvador: Editora Comenius e IDEBA, 1998.

- DAMAZIO, Sylvia F. Da elite ao povo: advento e expansão do espiritismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

- GIUMBELLI, Emerson. O Cuidado dos Mortos: uma história da condenação e legitimação do espiritismo. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997.

- INCONTRI, Dora. Para entender Allan Kardec. São Paulo: Lachâtre, 2004.

- LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 20.ed.- Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006

- MARTINS, Sebastião Pinheiro. Os Fundamentos Históricos da Pedagogia Espírita. Rio de Janeiro: Edições Léon Denis, 2006.

- VASCONCELLOS, Azuil. História do Espiritismo Resumidamente. Rio de Janeiro: CELD, 2009.