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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O modelo conflitual de análise dos textos sagrados

Revista CiberTeologia (Edição nº 35 – Ano VII – Julho/Agosto/Setembro 2011): O modelo conflitual de análise dos textos sagrados (Israel Serique dos Santos e Joel Antonio Ferreira): No âmbito das produções religiosas, a literatura apresenta-se como um cadinho denso de informações com as quais o pesquisador do fenômeno religioso é convidado a interagir para fins de melhor entender aquelas religiões que possuem este elemento como fator preponderante. Nesta caminhada em pesquisa, os livros sagrados foram tanto considerados como meros artefatos arqueológicos como também simples literatura teológica a ser lida e compreendida em suas formulações teóricas de pensamento. Na atualidade, a compreensão de que os livros sagrados trazem consigo ideologias e relações de poder tem feito com que os estudiosos do fenômeno religioso se voltem para as ciências sociais em busca de conceitos adequados para o desvelamento e análise dessas questões. Nisso o “modelo conflitual” apresenta-se tanto como ferramenta apropriada para esta empreitada como também meio minimizador das assimetrias sociais e fomentador da paz. >>> Leia mais, clique aqui.

domingo, 7 de novembro de 2010

“Israel”: Memória, Identidade e Interpretação

Trecho de: FERREIRA, Cláudia Andréa Prata. O pacto da memória: interpretação e identidade nas fontes bíblica e talmúdica. Tese de Doutorado em Poética (Ciência da Literatura). Rio de Janeiro: UFRJ /Faculdade de Letras, 2002. p.19-26: Os patriarcas e matriarcas têm como elemento comum, um pacto com Deus, no qual se estabelece um compromisso mútuo, que se ratifica a cada geração na transmissão de valores e pela circuncisão. De acordo com o texto bíblico, Avraham, o primeiro hebreu, abandona o lar na Mesopotâmia em cumprimento à ordem divina, na direção de um novo destino (Gn 12,1-2). A circuncisão é a formalização do pacto entre Avraham e Deus por meio de um sinal físico (Gn 17,10-11). O pacto se renova com o filho de Avraham, Isaac (Gn 26,24) e por sua vez, a promessa divina se repete também com Jacó, filho de Isaac e neto de Avraham (Gn 28,13-15). >>> Leia mais, clique aqui.

domingo, 26 de julho de 2009

Isaac e Édipo

O Globo, Opinião, página 7 (26/07/2009)


Isaac e Édipo

VERISSIMO


Kalman J. Kaplan ensina nas universidades americanas de Wayne State e Illinois.


Tem escrito sobre paralelos bíblicos para os mitos gregos e publicou uma comparação das histórias de Isaac e Édipo, duas versões para o drama familiar que, segundo a ortodoxia freudiana, está na origem da civilização e das suas neuroses. Isaac era o filho amado que Deus mandou Abraão imolar, Édipo o filho enjeitado condenado a cumprir a profecia feita a seu pai de que um filho o mataria. São duas figuras igualmente sacrificiais e expiatórias, e Kaplan estranha que Freud, mesmo sendo um judeu secular, não tenha preferido o exemplo bíblico ao grego para a sua tese sobre o conflito mais antigo da humanidade. O que diferencia Isaac de Édipo é a natureza do sacrifício e a consequência da expiação de cada um. Deus poupa Isaac da imolação e pai e filho chegam a um acordo que, no fim, é o acordo inaugural do judaísmo. Os terrores do filho diante do pai são atenuados pela sua ritualização — como a circuncisão, que é uma castração simbólica — e o terror do pai diante do filho é transferido: a vinda do Messias, o filho que sustará ele mesmo a faca imoladora e desafiará o pai, fica para um futuro indefinido. Já Édipo cumpre a sua danação. Mata o pai, ganha as glórias passageiras do reino de Tebas e da cama da mãe, mas é derrotado pelo remorso. Sucumbe ao destino reincidente de todo homem e inaugura não uma religião mas um complexo.


O Jesus das escrituras tem muitos precedentes em mitos da antiguidade, heróis expiatórios de outras culturas cujo martírio precede a ressurreição e voltam dos seus abismos e das suas provações como líderes ou deuses A especulação, hoje disputada, de Freud era que todos os mitos de redenção tinham origem na revolta dos filhos rebeldes contra o pai tirano, nas hordas primitivas. Os filhos matavam e comiam o pai e aplacavam o remorso, o medo de serem literalmente comidos por dentro em retribuição, designando um dos seus como o culpado, sacralizando o crime e o criminoso e imolando o irmão/herói numa oferenda ao pai vingativo. Os mitos judaicos e os mitos gregos substituíam o monomito primevo de formas diversas, mesmo que os dois mitos fossem essencialmente os mesmos. A história de Isaac é um mito de conciliação, a de Édipo, um mito de recorrência trágica. As duas buscam a superação do conflito pai x filhos, a de Isaac pela integração sob os olhos de Jeová — nas palavras do profeta Malaquias, “e converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição” — a de Édipo pela resignação aos ciclos da condição humana, inegociáveis, pelo menos até que venha a psicanálise. Já a tradição messiânica dá no Cristo, cujo triunfo histórico se deve ao seu ineditismo. No mito cristão o filho confronta o pai, mas filho e pai são a mesma coisa. O pai não mata o filho, o filho é imolado em oferenda a si mesmo. E é a carne do irmão/herói, não a do pai, que os irmãos comem, simbolicamente, na eucaristia, subvertendo o rito primevo enquanto o repetem.


E o mito cristão não é cíclico. Ele rompe a reincidência protelatória do mito judaico e a dos eternos retornos do mito grego. Seu herói venceu, expiou a culpa coletiva transformando-se por nós no seu próprio pai sem precisar matá-lo, e, em vez de um acordo como o de Isaac com Abraão com a bênção de Jeová ou a submissão a um destino trágico como a de Édipo, trouxe uma novidade que nenhum mito, antes, oferecera: a salvação.