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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Marcos Nobre: Fé na mídia

FSP (04/08/2009): Marcos Nobre: Fé na mídia


ONDE HÁ pluralismo religioso, a alternativa para a guerra é a tolerância. E, para impedir que uma crença chegue a ocupar a posição de única fé verdadeira e extermine as demais, estabeleceu-se a separação entre Estado e igreja e se atribuiu à religião o espaço da vida privada.


Mas esse espaço estreito do privado nunca foi aceito pacificamente pelas religiões. Principalmente porque ficou ainda mais exíguo com o declínio da família como lugar privilegiado de formação de identidades e de socialização. A competição por fiéis invadiu a esfera pública de uma maneira selvagem.


É claro que, respeitado o princípio da tolerância, a esfera pública deve estar aberta a todo tipo de manifestação de pensamento. A necessária laicidade do Estado não pode e não deve restringir o pluralismo da esfera pública, mesmo sendo muitas vezes fluidos e sutis os limites entre essas duas instâncias.


Só que a tolerância não é lei nem política de Estado. Só arrefece a pretensão de uma religião de se impor sobre as demais se a tolerância passa de fato a fazer parte da prática cotidiana pública. Por via indireta, essa também é uma maneira de medir o grau de democratização de uma sociedade. Por aí se vê o quanto o Brasil anda longe de ser exemplo de tolerância religiosa, apesar da lenda da convivência pacífica.


Há já algum tempo, a esfera pública brasileira se viu tomada por uma disputa midiática entre credos rivais que não se pauta pelo fomento da tolerância, mas simplesmente pela busca do maior número possível de fiéis. É uma disputa desigual. Está em jogo a aquisição de canais de televisão, de emissoras de rádio e de jornais. É o jogo bruto da busca pelo maior poder midiático possível, o que inclui o recurso a crentes famosos, como jogadores de futebol.


Se seitas protestantes costumam ser mais bem-sucedidas na aquisição direta de meios de comunicação de massa, a Igreja Católica responde com seu poder secular. Em 1997, durante o governo FHC, conseguiu aprovar a lei que garante o ensino religioso nas escolas do nível fundamental. Recentemente, o governo Lula firmou um acordo com o Estado do Vaticano que privilegia abertamente a crença católica sobre as demais. É de esperar que a Câmara dos Deputados o rejeite.


A guerra por fiéis tem muita bala perdida. Como fez Juca Kfouri em sua coluna da semana passada, "Deixem Jesus em paz", ainda vai ser preciso que muita gente reclame de ser vítima involuntária dessa guerra para que a tolerância conquiste de fato o seu lugar na vida pública brasileira.


Veja mais:

  • IHU (01/08/2009): Deixem Jesus em paz: Está ficando a cada dia mais insuportável o proselitismo religioso que invadiu o futebol brasileiro. A opinião é do jornalista Juca Kfouri em artigo no jornal Folha de S.Paulo, 30-07-2009.

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