Gazeta do Povo, em 30/08/2008. Adriana Czelusniak
É preciso aprender a conviver por cidadania, respeito e co-responsabilidade e não por medo de uma punição divina. A afirmação é do pedagogo e doutor em Ciên-cia da Educação Sérgio Junqueira, que participa da III Assembléia Latino-Americana da Iniciativa das Religiões Unidas (URI), hoje, em Foz do Iguaçu. A URI é uma organização que busca promover o diálogo e a ação inter-religiosa. Ela está presente em 50 países e com a assembléia quer promover o encontro e a troca de experiências sobre a paz, recursos naturais, cultura indígena e liberdade religiosa na América Latina. O evento teve início ontem e segue até amanhã, no auditório do Refúgio Biológico Bela Vista.
Junqueira, que é coordenador do Grupo de Pesquisa em Educação e Religião da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), fala na assembléia sobre a diversidade religiosa na educação e sobre a importância do ensino religioso.
A obrigatoriedade e as características do ensino religioso oferecido pelas escolas públicas têm sido discutidas atualmente por causa de o Brasil ser um Estado sem religião oficial. Há um conflito?
Não, porque não se ensina religião. Haveria um problema se ele fosse patrocinado ou patrocinasse alguma igreja, mas não é o caso. Desde 1934 o Brasil inseriu a obrigatoriedade do ensino religioso por parte das escolas e o caráter optativo para os alunos. Em 1996, a primeira versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) falava em ensino religioso confessional e interconfessional, mas sem ser pago pelo Estado. Mas aí havia um grande problema organizacional. A escola teria que oferecer o ensino à parte. A partir de 1997 o ensino passou a ser dado na escola, para ajudar os alunos a entender a cultura dos diferentes povos.
Como se deu essa discussão sobre o ensino religioso no Brasil?
No Brasil há três correntes. Há os que defendem o ensino religioso fora da escola, que são aqueles que usam a justificativa do estado laico. Os que defendem como doutrina e justificam afirmando que a família sozinha não consegue cumprir o papel de ensinar. Essas duas primeiras correntes são opostas e vêm desde o fim do Império, quando o Brasil era católico por lei. O Brasil passou a ser laico apenas na República. A terceira corrente é a mais nova, surgiu nos anos 60, ganhando mais força nos anos 80. Ela defende o ensino religioso como componente curricular, mas independente de qualquer religião e com a perspectiva de ajudar a entender a sociedade.
Considerando as três formas de ensino religioso – confessional, interconfessional e fenomenológico –, o que difere cada uma delas?
O confessional é o mais antigo, é a famosa aula de religião, ligada à Teologia. O ensino interconfessional foi criado a partir dos anos 70, segue a linha cristã. É mais ligado ao ensino de valores, como amor, respeito, que são temas comuns entre as denominações cristãs. O fenomenológico é o que estuda as manifestações culturais e religiosas da sociedade. São objetos de estudo festas, rituais, feriados, comportamentos, etc. É mais ligado à Antropologia, Sociologia, Filosofia, enfim, ciências humanas que estudam o fenômeno religioso.
Como o senhor vê o futuro do ensino religioso no Brasil, em meio a tanta discussão sobre sua obrigatoriedade?
O Estado deve oferecer o ensino religioso. O seu conteúdo contribui para a leitura e a compreensão da sociedade, pode ensinar as pessoas a conviver por uma questão de cidadania, respeito e co-responsabilidade e não porque alguém vai puni-las se não se comportarem de determinada maneira. A pessoa deve saber se comportar em uma comunidade por ter autonomia, não por medo. Os alunos têm que entender porque o discurso religioso interfere nas ações sociais. Um exemplo disso é a discussão sobre as células-tronco: de um lado os cientistas com um avanço na ciência, e do outro, os religiosos que não aceitavam. O aluno tem que conhecer os dois lados, entender a diversidade, também para poder aceitar as diferenças, mas o ensino deve abordar valores sem doutrinar os alunos.
O Paraná é uma das referências internacionais no ensino religioso, segundo relatório da Unesco de 2005. A que se deve esse destaque?
A esse movimento de olhar o ensino religioso através da escola, o esforço de trazê-lo para dentro das instituições de ensino. A escola, ao oferecer esse conteúdo, possibilita à criança e ao adolescente a convivência e o diálogo sobre a diversidade. E a aborda sobre vários aspectos, como o étnico-racial, de gênero e de orientação sexual.
É preciso aprender a conviver por cidadania, respeito e co-responsabilidade e não por medo de uma punição divina. A afirmação é do pedagogo e doutor em Ciên-cia da Educação Sérgio Junqueira, que participa da III Assembléia Latino-Americana da Iniciativa das Religiões Unidas (URI), hoje, em Foz do Iguaçu. A URI é uma organização que busca promover o diálogo e a ação inter-religiosa. Ela está presente em 50 países e com a assembléia quer promover o encontro e a troca de experiências sobre a paz, recursos naturais, cultura indígena e liberdade religiosa na América Latina. O evento teve início ontem e segue até amanhã, no auditório do Refúgio Biológico Bela Vista.
Junqueira, que é coordenador do Grupo de Pesquisa em Educação e Religião da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), fala na assembléia sobre a diversidade religiosa na educação e sobre a importância do ensino religioso.
A obrigatoriedade e as características do ensino religioso oferecido pelas escolas públicas têm sido discutidas atualmente por causa de o Brasil ser um Estado sem religião oficial. Há um conflito?
Não, porque não se ensina religião. Haveria um problema se ele fosse patrocinado ou patrocinasse alguma igreja, mas não é o caso. Desde 1934 o Brasil inseriu a obrigatoriedade do ensino religioso por parte das escolas e o caráter optativo para os alunos. Em 1996, a primeira versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) falava em ensino religioso confessional e interconfessional, mas sem ser pago pelo Estado. Mas aí havia um grande problema organizacional. A escola teria que oferecer o ensino à parte. A partir de 1997 o ensino passou a ser dado na escola, para ajudar os alunos a entender a cultura dos diferentes povos.
Como se deu essa discussão sobre o ensino religioso no Brasil?
No Brasil há três correntes. Há os que defendem o ensino religioso fora da escola, que são aqueles que usam a justificativa do estado laico. Os que defendem como doutrina e justificam afirmando que a família sozinha não consegue cumprir o papel de ensinar. Essas duas primeiras correntes são opostas e vêm desde o fim do Império, quando o Brasil era católico por lei. O Brasil passou a ser laico apenas na República. A terceira corrente é a mais nova, surgiu nos anos 60, ganhando mais força nos anos 80. Ela defende o ensino religioso como componente curricular, mas independente de qualquer religião e com a perspectiva de ajudar a entender a sociedade.
Considerando as três formas de ensino religioso – confessional, interconfessional e fenomenológico –, o que difere cada uma delas?
O confessional é o mais antigo, é a famosa aula de religião, ligada à Teologia. O ensino interconfessional foi criado a partir dos anos 70, segue a linha cristã. É mais ligado ao ensino de valores, como amor, respeito, que são temas comuns entre as denominações cristãs. O fenomenológico é o que estuda as manifestações culturais e religiosas da sociedade. São objetos de estudo festas, rituais, feriados, comportamentos, etc. É mais ligado à Antropologia, Sociologia, Filosofia, enfim, ciências humanas que estudam o fenômeno religioso.
Como o senhor vê o futuro do ensino religioso no Brasil, em meio a tanta discussão sobre sua obrigatoriedade?
O Estado deve oferecer o ensino religioso. O seu conteúdo contribui para a leitura e a compreensão da sociedade, pode ensinar as pessoas a conviver por uma questão de cidadania, respeito e co-responsabilidade e não porque alguém vai puni-las se não se comportarem de determinada maneira. A pessoa deve saber se comportar em uma comunidade por ter autonomia, não por medo. Os alunos têm que entender porque o discurso religioso interfere nas ações sociais. Um exemplo disso é a discussão sobre as células-tronco: de um lado os cientistas com um avanço na ciência, e do outro, os religiosos que não aceitavam. O aluno tem que conhecer os dois lados, entender a diversidade, também para poder aceitar as diferenças, mas o ensino deve abordar valores sem doutrinar os alunos.
O Paraná é uma das referências internacionais no ensino religioso, segundo relatório da Unesco de 2005. A que se deve esse destaque?
A esse movimento de olhar o ensino religioso através da escola, o esforço de trazê-lo para dentro das instituições de ensino. A escola, ao oferecer esse conteúdo, possibilita à criança e ao adolescente a convivência e o diálogo sobre a diversidade. E a aborda sobre vários aspectos, como o étnico-racial, de gênero e de orientação sexual.
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