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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A nova onda da meditação

A nova onda da meditação
Aceita como fenômeno físico, prática é adotada por neurocientistas e psicólogos

Carlos Albuquerque
O Globo, Ciência, página 44, em 03/08/2008.

Confortavelmente sentado, cerre os olhos, respire fundo e esvazie a sua mente dos preconceitos em torno da meditação. Durante muito tempo considerada uma prática mística e esotérica, com todo o teor pejorativo que isso possa carregar, a meditação está passando por um processo de reciclagem.

Já aceita como um fenômeno físico, graças a recentes estudos do cérebro, ela tem sido usada por neurocientistas, psicólogos e outros especialistas como uma valiosa ferramenta, uma espécie de Lexotan espiritual, no tratamento de diversas doenças.

— Quimicamente, a meditação parece estimular uma maior produção de certos neurotransmissores no cérebro, como a dopamina, responsável pelo sentimento de prazer e bem-estar, e a serotonina, ligada à sensação de felicidade — explica o psicólogo e mestre em neurociências da USP, Leonardo Mascaro, que acaba de lançar o livro “A arquitetura do eu”. — Isso tudo ajudaria a explicar as melhorias de humor registradas nos praticantes de meditação.

Em torno desse relativamente novo conceito, a meditação tem sido estudada por meio de técnicas científicas, como a análise das ondas cerebrais e procedimentos de diagnóstico por imagens, como o eletroencefalograma.

O objetivo de especialistas como o médico psiquiatra Alcio Braz, mestre em antropologia social, é entender como a meditação atua no cérebro enquanto seus praticantes encontram-se imersos em profundos estágios de interiorização.

— A medicina ainda não explica todos os efeitos da meditação — diz Alcio Braz, que é chefe do Serviço de Saúde Mental do Hospital da Lagoa. — Sabe-se que parte desses efeitos tem a ver com modificações dos padrões de resposta a situações estressantes, com aumento da atividade de áreas de inibição da ansiedade e diminuição da secreção dos hormônios vinculados à reação aguda ao estresse.

Prática ativa lobos frontais do cérebro
Monge budista, ordenado no Japão em 1995, Alcio Braz tem dado um belo exemplo de como utilizar a meditação, de forma prática, no tratamento de doenças. Desde 1999, ele comanda regularmente sessões, que chama de “terapias alternativas”, com pacientes do Hospital da Lagoa.

— Essa iniciativa surgiu incluída em um protocolo de tratamento para portadores de transtorno do pânico, implantado no Ambulatório de Saúde Mental do Hospital da Lagoa, que é um hospital federal da rede do SUS — conta ele, um dos participantes do VI Congresso de Meditação do Rio de Janeiro, que começou ontem e acaba hoje, na PUC. — Era um protocolo de 12 semanas de tratamento, com sessões semanais de terapia de grupo que incluíam um período de meditação no final, que, na época, chamávamos de relaxamento com atenção à respiração, exatamente pela dificuldade de aceitação do termo “meditação” no contexto hospitalar naquele momento.

De acordo com o médico, os resultados da meditação entre aqueles primeiros pacientes foram tão bons que as sessões se mantiveram até hoje.

— Um primeiro grupo, de 11 pacientes, nos mostrou que nove não só melhoraram, mas quiseram continuar a ter a prática da meditação como parte de suas vidas — lembra Braz. — Um deles, ainda hoje, pratica conosco.

Novos estudos quebraram velhos conceitos em relação ao funcionamento do cérebro, sobretudo os que pontificavam que as células nervosas do órgão não se modificariam mais depois da infância. Na verdade, sabe-se hoje que elas se modificam, sim, desde que devidamente estimuladas.

— A prática da meditação promove um maior grau de coerência de atividade entre áreas do cérebro, que passam a cooperar, por assim dizer, de forma otimizada entre si — diz Leonardo Mascaro.

Essas áreas do cérebro são os lobos frontais esquerdo e direito. Pacientes estressados têm o lado direito mais ativado. Já pessoas alegres e felizes, independentemente das circunstâncias, possuem o córtex frontal esquerdo mais ativado.

Monges budistas, por exemplo, têm essa região do cérebro extremamente desenvolvida.

— A prática meditativa leva, progressivamente, a uma maior ativação dos lobos frontais — explica Mascaro. — Isso parece explicar melhorias como o incremento da capacidade de concentração, e um maior equilíbrio no processamento emocional, que é expressado por uma experiência subjetiva mais positiva, tanto no contato consigo mesmo, quanto com o mundo, com maior produção de estados de bem-estar, compaixão e felicidade.

Os especialistas ressaltam que a meditação de “alto nível”, aquela que transcenderia a consciência e elevaria o espírito, não está restrita apenas a monges e iogues.

— Existem muitas lendas e folclore nessas idéias — diz Alcio Braz. — Mas qualquer um pode aprender a meditação e colocá-la em ação em sua vida. Basta procurar um professor sério, seja qual for a linha ensinada, porque o importante é descobrir qual o tipo de prática é viável para você.

Outro exemplo de aplicação prática — e, de certa forma, inusitada — da medição é feito pela terapeuta francesa Nathalie Brahmani Fougeret.

Ela desenvolveu um método que chama de “conforto integrado”, que é utilizado por pacientes da Clínica Ivo Pitanguy.

— Esse tratamento de conforto integrado vai ajudar no pré e no pós-operatório — conta Nathalie, que trabalha na clínica há pouco mais de um ano. — Entre outras coisas, isso vai ajudar o paciente a aceitar melhor a sua nova imagem.

A arquitetura da neuropsicoterapia
Técnica desenvolvida por brasileiro mistura neurologia com meditação

Misturando técnicas neurológicas com conhecimentos sobre meditação, o psicólogo Leonardo Mascaro, da USP, criou uma terapia chamada de neuropsicoterapia. No livro “A arquitetura do eu”, ele explica as bases dessa nova forma de tratamento e dá exemplos de como ela pode ser utilizada por pessoas que sofrem dos mais diferentes problemas.

— A premissa fundamental da neuropsicoterapia é a de que comprometimentos como distúrbios de personalidade e de comportamento social, desequilíbrio e instabilidade emocional, agressividade, quadros depressivos e de ansiedade ou pânico, e mesmo outros como déficit de atenção, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), problemas de memória, bem como quadros de dor crônica e de fibromialgia, estão todos enraizados em perturbações na fisiologia do cérebro.

A análise dessas patologias se dá através do que Mascaro chama de “digitais da dor”.

— Para cada patologia há uma assinatura neurológica específica — conta ele. — São padrões equivocados, facilmente identificáveis através da leitura do eletroencefalograma (EEG). É possível explorar os conteúdos de sua dinâmica psíquica através da meditação. Mas vale ressaltar que a meditação não é uma técnica, mas um estado de consciência que emerge a partir da produção, no cérebro, de uma atividade elétrica muito bem definida e caracterizada.

Para unir o tratamento neurológico com a prática da meditação, Mascaro usa um equipamento curiosamente chamado de Mind Mirror (Espelho da Mente).

— O Mind Mirror é o único equipamento de EEG que foi especialmente desenvolvido a partir do estudo do cérebro de iogues em meditação.

Ele permite uma análise do conjunto das freqüências que estão sendo produzidas pelo cérebro, momento a momento, apresentando-as sob a forma de gráficos, o que facilita sua leitura no computador.

(Carlos Albuquerque)


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