Ilustração da equipe de arte do G1 apresenta algumas das lições encontradas nos livros didáticos sauditas traduzidas para o português (Ilustração: G1)
As lições encontradas nos livros didáticos do país (leia algumas delas na ilustração ao lado), que permeiam todo o ensino médio, incluem negação do cristianismo e judaísmo, proibição de amar pessoas de outras religiões, listas de defeitos inerentes dos judeus, e muitas outras aulas radicais.
"Desde a primeira série, os livros tratam da condenação a cristãos e judeus, na terceira série trata do ódio aos inimigos, e vai ficando mais violento a cada ano, até o fim do ensino médio, quando os livros ensinam que a jihad para lutar contra os infiéis é autorizada para espalhar a fé" explicou Nina Shea, coordenadora do estudo "Currículo de Intolerância da Arábia Saudita", lançado pelo o Centro para Liberdade Religiosa do Instituto Hudson, em entrevista ao G1.
Segundo ela, o estudo analisou todos os livros didáticos publicados pelo Ministério saudita da Educação. "Este tipo de ensinamento forma a base de todo o currículo escolar das crianças sauditas. Não é uma aula de religião, é parte de tudo o que as crianças aprendem", disse.
A primeira vez em que a análise foi feita, em 2006, serviu para que o instituto Hudson e o governo norte-americano pressionassem a Arábia Saudita, que prometeu mudanças. Mesmo assim, nada mudou na atualização recém-concluída, que apontou que as lições de violência continuam presentes nos livros mais novos.
"Eles usam uma terminologia militante e defendem que é permitido matar os inimigos, ou mesmo quem discordar da religião. Defendem a morte a homossexuais como vontade de Deus. É um discurso violento que vai se consolidando por toda a idade escolar."
Segundo a diretora do estudo, todas as crianças sauditas têm que estudar isso, mesmo as que vivem fora da Arábia Saudita, se quiserem voltar algum dia a seu país, precisam aprender tudo isso, passar por esta educação.
Nina Shea admite não ter um complemento do estudo que comprove as conseqüências deste tipo de educação na sociedade saudita e em sua relação com outros países. Ela aponta, entretanto, uma maior vulnerabilidade da população do país em recrutamentos de grupos terroristas.
"Se analisarmos a quantidade de terroristas suicidas de origem saudita, podemos comprovar esta vulnerabilidade", disse. "Não temos um estudo que mostre que os livros são responsáveis pela violência, mas é de se esperar que este tipo de ensinamento faça com que as crianças do país passem a acreditar que é necessário eliminar o outro, o diferente."
Segundo ela, intelectuais e pesquisadores do próprio país questionam este tipo de ensinamento dos livros didáticos, e reclamem da forma como as crianças são educadas.
"Não se pode comparar o que acontece na Arábia Saudita com algo feito pelo Hamas ou o Hezbollah, por exemplo, porque é algo oficial, que está aberto a consultas no site do Ministério de Educação do país. O problema se torna mais grave por causa da riqueza do país, e acaba por se espalhar para outros lugares, já que os livros são distribuídos para outros países ligados aos sauditas", disse.
O estudo do instituto Hudson de fato traz a resposta do governo saudita, após ser pressionado, prometendo mudanças no currículo escolar do país e nos livros didáticos oficiais.
No site do Ministério, que tem seções disponíveis em inglês, há frases e declarações sobre a importância da educação e do currículo escolar.
"O currículo educacional é uma poderosa fonte para uma nação já que é o currículo que impulsiona a alma, a mente e o corpo de uma pessoa, fazendo cada um trabalhar com máxima efetividade", diz o texto.
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