Revista O Globo, domingo, 01 de junho de 2008.
Paulo Coelho, página 71 – Os seres humanos e a fé
Sri Ramakrisna conta que um homem estava prestes a cruzar um rio quando o mestre Bibhishana se aproximou, escreveu um nome numa folha, amarrou-a nas costas do homem e disse: — Não tenha medo. Sua fé o ajudará a caminhar sobre as águas. Mas no instante em que perder a fé, você se afogará. O homem começou a caminhar sobre as águas, sem qualquer dificuldade. A certa altura, porém, teve um imenso desejo de saber o que seu mestre havia escrito na folha amarrada em suas costas. Pegou-a e leu o que estava escrito: “Ó deus Rama, ajuda este homem a cruzar o rio.” — Só isso? — pensou o homem. — Quem é esse deus Rama, afinal? No momento em que a dúvida instalouse em sua mente, ele submergiu e afogou-se na correnteza.
A mãe, preocupada, telefonou para a escola, e informaram que a menina já deixara o colégio debaixo da tempestade. Ao ver que ela não chegava, colocou uma capa de chuva e saiu, imaginando que a filha devia estar escondida na casa de um vizinho, chorando, e esperando a tempestade passar. Assim que dobrou a esquina, viu que a menina andava lentamente em direção à casa, mas parava a cada vez que caía um raio, olhava para o céu e sorria. — Você não está vendo os flashes, mamãe? Deus está tirando fotos de mim!
Durante a evangelização no Japão, um missionário foi preso por samurais. — Se quiser continuar vivo, amanhã terá que pisar a imagem de Cristo, diante de todos — disseram os guerreiros. O missionário foi dormir, sem nenhuma dúvida no coração: jamais cometeria tal sacrilégio e estava preparado para o martírio. Acordou no meio da noite e, ao levantar-se da cama, tropeçou num homem que dormia no chão. Quase caiu para trás: era Jesus Cristo em pessoa! — Agora que já pisou em mim, vá lá fora e pise na minha imagem — disse Jesus. — Porque lutar por uma idéia é muito mais importante que a vaidade de um sacrifício.
Um lavrador com a esposa doente chamou um sacerdote budista à sua casa. O sacerdote começou a rezar pedindo que Deus curasse todos os enfermos. — Um momento — interrompeu o lavrador. — Eu pedi para que rezasse por minha esposa, e o senhor pede por todos os doentes. Pode terminar beneficiando o meu vizinho, que está doente também. E eu não gosto dele. — Ao rezar por todos, estou unindo minhas preces a milhares de pessoas que se encontram agora pedindo por seus doentes. Somadas, estas vozes chegam até Deus e beneficiam a todos. Divididas, elas perdem sua força e não chegam a lugar nenhum.
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