Entrevista ao secretário da Comissão para as Relações com o Judaísmo
O encontro será organizado pela Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com o Judaísmo e pelo Comitê Internacional Judaico de Consultas Inter-religiosas, e está centrado no tema «A sociedade civil e a religião, perspectivas católicas e judaicas».
Para saber mais sobre o evento, Zenit entrevistou o Pe. Norbert Hofmann, secretário da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, instituída dentro do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
–Pe. Hofmann: A Santa Sé iniciou o diálogo sistemático com o mundo judaico depois do Concílio Vaticano II, ou seja, a partir de 1965. Por parte dos judeus, em 1970 se fundou o chamado Comitê Internacional Judaico de Consultas Inter-Religiosas. É uma organização que inclui quase todas as agências mais importantes dos judeus, empenhadas no diálogo inter-religioso. Até agora, de
–Pe. Hofmann: O principal motivo deste congresso em Budapeste é ver a situação do diálogo entre católicos e judeus, nos países da Europa do Leste. Escolhemos Budapeste porque nesta cidade há uma comunidade judaica bastante grande e porque neste país o diálogo fez muitos progressos.
A partir do início do diálogo oficial da Igreja Católica com o mundo judaico, reconhecemos etapas muito importantes. Por exemplo, João Paulo II foi o primeiro papa a visitar uma sinagoga, a rezar em Auschwitz pelas vítimas da Shoah, a ir a Israel. Rezou no Muro das Lamentações, visitou Yad Vashem, o monumento e o Museu do Holocausto. Portanto, importante não é só o documento Nostra Aetate, mas também os textos publicados pelas diversas conferências episcopais. Porém, ainda mais importantes são as testemunhas vivas, como João Paulo II e agora Bento XVI.
Passadas seis semanas desde a sua eleição, Bento XVI recebeu a primeira delegação judaica; quatro meses depois, visitou a sinagoga em Colônia; passado um ano, visitou Auschwitz para rezar pelas vítimas da Shoah. Também tem intenção de visitar Israel se a situação for favorável para organizar esta visita. O Papa Ratzinger está muito interessado no diálogo com os judeus.
Entre as etapas de 2006, organizamos um encontro na Cidade do Cabo, na África do Sul, para comprometer-nos juntos, católicos e judeus, contra o problema da AIDS. Em 2004, estivemos
–Pe. Hofmann: Por nossa parte, a metade dos participantes virá da Hungria, da Conferência Episcopal Húngara; haverá cardeais, bispos especialistas, professores que têm uma longa experiência no diálogo com os judeus.
Por parte dos judeus se envolverá a comunidade local, mas espero que convidem participantes dos Estados Unidos e de Israel e também da Europa e da Europa do Leste. Nossa experiência é que após uma conferência assim, o diálogo no lugar recebe estímulos.
–Pe. Hofmann: O tema oficial será «a sociedade civil e a religião, perspectivas católicas e judaicas». O objetivo é o de compreender em que ponto estamos no diálogo com os judeus na Europa do Leste. Também queremos dar um estímulo à situação na Hungria e em outros países da Europa do Leste, com o fim de aprofundar no diálogo judaico-católico.
–Quais são os principais âmbitos problemáticos do debate?
–Pe. Hofmann: A beatificação de Pio XII. Depois, está a nova oração da Sexta-Feira Santa na Missa tridentina, que fez um pouco de barulho. Agora estamos falando com nossa contraparte judaica para ulteriores esclarecimentos, para poder equilibrar a situação. Mas digamos que os problemas gerais são muitos. Por exemplo, nós temos uma estrutura hierárquica, está o Papa, está a Conferência Episcopal, os cardeais. Ao contrário, o lado dos judeus há diversas agências. Nós temos principalmente um interesse religioso e algumas vezes, inclusive, os judeus estão dispostos a falar dos argumentos religiosos, mas para eles também os aspectos da cultura, da vida social, da política são muito importantes.
O outro ponto no qual a situação é muito difícil se refere ao conflito entre Israel e Palestina: este conflito desde sempre projeta uma sombra sobre nossos debates e algumas vezes mistura a política com os assuntos religiosos. Israel é o único país do mundo no qual os judeus são maioria e os cristãos são uma pequena minoria. Logo, para os judeus é sempre importante combater o anti-semitismo. Como disse João Paulo II: o anti-semitismo é um pecado contra Deus e contra toda a humanidade. Por isso, os judeus podem estar seguros de ter encontrado um aliado contra o anti-semitismo.
–Pe. Hofmann: Há muitos, porque espiritualmente, teologicamente, o cristianismo tem raízes judaicas. O cristianismo não pode ser compreendido sem o judaísmo. Como disse uma vez o cardeal Joseph Ratzinger, para os judeus e para nosso credo, o Deus único é o Deus de Israel. Está também o mandamento segundo o qual devemos ajudar os necessitados, depois a Sagrada Escritura como revelação da vontade de Deus, os dez mandamentos, a ética, o como viver e como se realizar inteiramente como seres humanos. Digamos que desde o ponto de vista social, podemos fazer muito juntos. Também na liturgia, na ética, há elementos comparáveis. O fundamento religioso é amplo.
–Em que nível se está desenvolvendo o diálogo entre o mundo cristão e o judaico?
–Pe. Hofmann: No âmbito religioso, da justiça social, dos debates em torno de temas teológicos, da influência do judaísmo sobre o cristianismo e vice-versa na Idade Média, das raízes judaicas. Leva-se adiante um diálogo contínuo para redescobrir cada vez mais a própria identidade cristã.
Está também o âmbito cotidiano:
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