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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O diálogo inter-religioso (Cardeal Dom Cláudio Hummes)

Segue artigo do Cardeal Dom Cláudio Hummes sobre o diálogo inter-religioso publicado no site Região Episcocal Sé, em 15 de setembro de 2005. O artigo foi originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 14 de setembro de 2005.


O diálogo inter-religioso


O documento do Concílio Vaticano II intitulado Nostra Aetate, que trata do diálogo inter-religioso, está completando seu 40º aniversário. Com razão, haverá celebrações pelo mundo afora. Também aqui, na cidade de São Paulo.


Com efeito, no atual mundo globalizado, conectado em rede, cresce a mobilidade humana, a mistura ou a convivência, lado a lado, de raças, línguas, culturas e religiões, na maioria dos países, pelas migrações em busca de melhores condições de trabalho, educação e vida, que levam milhões e milhões de pessoas a se deslocarem de sua região de origem para outras regiões do planeta. Põe-se, então, a questão: como acolher a alteridade, como respeitar o diferente, como conviver na pluralidade, como somar com 'o outro' na busca do bem comum, na construção da prosperidade e da paz? Já não se trata apenas da presença física do 'outro'.


Pois ele está também virtualmente presente em todo lugar, através dos meios de comunicação cada vez mais globais e em tempo real. Assim, quer queira ou não, o 'outro', ou melhor, 'todos os outros' me rodeiam constantemente, me questionam, me afetam, e podem tanto ser para mim uma oportunidade positiva quanto uma oportunidade perdida. Porém para nós, cristãos, eles todos devem ser como irmãos. Eles podem ser uma bênção. Em vez de 'nós' e 'eles', podemos juntos ser 'todos nós'. Ora, o documento Nostra Aetate (NA) enfrenta precisamente estes problemas, que nos últimos 40 anos só cresceram em importância e em volume.


O documento inicia com uma declaração básica em que afirma a unidade original do gênero humano, 'uma vez que Deus fez todo o gênero humano habitar a face da terra'(NA 1). E logo entra no tema das religiões no mundo. É por meio delas que os seres humanos procuram 'resposta aos mais profundos enigmas para a condição humana, que tanto ontem como hoje afligem intimamente os espíritos dos homens', como são a origem e o destino do homem, o sentido da existência, o bem e o mal, a verdadeira felicidade, a morte e a vida depois da morte e, acima de tudo, o mistério do Ser Supremo que chamamos de Deus. As religiões, contudo, são muitas, e não uma só, nascidas no decurso dos milênios e na diversidade dos povos e culturas. Ao mesmo tempo, hoje se destaca o fenômeno crescente da pluralidade de religiões no mesmo país, na mesma cidade, também na nossa cidade de São Paulo. Nostra Aetate quer promover as boas relações entre elas.


Fundamentalmente, o Concílio Vaticano II, no Nostra Aetate, defende e promove o diálogo entre as religiões para construir a paz, o respeito mútuo, a tolerância e a colaboração, a fim de contribuírem na construção do bem comum, da justiça e da paz na sociedade humana. Fala das diversas religiões não-cristãs. Ocupa-se principalmente do judaísmo e do islamismo, que, como o cristianismo, crêem em um só Deus. Portanto, religiões monoteístas, ainda que sejam bastante diferentes entre si quanto às demais verdades da fé.


Também o hinduísmo e o budismo recebem destaque. Todas elas e as demais religiões no mundo 'esforçam-se de diversos modos por irem ao encontro da inquietação do espírito humano, propondo caminhos, isto é, doutrinas e regras de vida, como também ritos sagrados' (NA 2).


Quanto ao judaísmo, reconhece que a Igreja de Cristo, ainda que, segundo sua fé, tenha recebido a plenitude da revelação em Jesus Cristo, tem raízes no judaísmo, pois 'todos os fiéis cristãos (são) filhos de Abraão, segundo a fé'. Afirma que 'por isso não pode a Igreja esquecer que por meio daquele povo, com o qual em sua indizível misericórdia Deus se dignou estabelecer a Antiga Aliança, ela recebeu a Revelação do Antigo Testamento e se alimenta pela raiz de boa oliveira'. Além disso, o texto recorda que Jesus é judeu e também a Virgem Maria, os apóstolos e os primeiros cristãos.


Nostra Aetate ainda declara que, se bem que houvesse chefes judaicos com seguidores que insistiram na morte de Jesus, 'aquilo, contudo, que se perpetrou na sua paixão não pode indistintamente ser imputado a todos os judeus que então viviam, nem aos de hoje', e por isso, olhando para a História, lamenta 'os ódios, as perseguições, as manifestações anti-semíticas, em qualquer tempo e por qualquer pessoa, dirigidas contra os judeus' (NA 4). Toda forma de anti-semitismo deve ser condenada e combatida, sem trégua e sem concessões.


Quanto aos muçulmanos, a Igreja 'os vê com carinho, porque adoram a um único Deus, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, Criador do céu e da terra, que falou pelos profetas'. Valoriza o fato e que, embora não reconhecendo a divindade de Jesus, o Islã o venera como profeta. Lamenta 'as não poucas dissensões e inimizades entre cristãos e muçulmanos' no decorrer dos séculos. Mas exorta agora 'à mútua compreensão' e que, 'em benefício de todos os homens e em ação conjunta, defendam e ampliem a justiça social, os valores morais, bem como a paz e a liberdade' (NA 3).


Em resumo, 'a Igreja reprova toda e qualquer discriminação ou vexame contra seres humanos por causa de raça ou cor, classe ou religião, como algo incompatível com o espírito de Cristo' (NA 5).


Aqui, em São Paulo, o diálogo inter-religioso desenvolvesse com todas as religiões não cristãs dispostas a dialogar.


Por motivos óbvios, destacasse e se promove o diálogo entre católicos, judeus e muçulmanos. Não queremos importar os conflitos que ensangüentam diversos países, hoje. Gostaríamos de exportar nosso empenho por uma convivência pacífica, amiga, respeitosa e dialogante.


Cardeal Dom Cláudio Hummes
Arcebispo Metropolitano de São Paulo

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