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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 12 de janeiro de 2008

Os Intelectuais e o Espiritismo

Os Intelectuais e o Espiritismo
Ubiratan Paulo Machado
Editora Lachâtre (269 páginas)

Resumo: Desde a sua primeira edição, este livro tornou-se um clássico da história do espiritismo no Brasil. Mergulhando nas origens da doutrina, nos Estados Unidos e na França, acompanha a sua introdução no Brasil, a acolhida social, as reações dos escritores, os conflitos com a igreja católica. Escrito em estilo ágil e fluente, abrange o período de 1850 aos primeiros anos do século XX. Obra de história, mas repleta de casos de petit histoire, como o interesse de Castro Alves pelo espiritismo e a curiosidade da princesa Isabel em conhecer o seu espírito protetor.

Sobe o autor: Ubiratan Paulo Machado nasceu no Rio de Janeiro. Os seus estudos primários e ginasiais foram realizados em colégios católicos. Essa educação deixou marcas profundas em sua sensibilidade, mas também lhe abriu a mente para a volúpia da contestação e a busca da liberdade e da verdade. Em sua mocidade, exerceu as mais diversas profissões, tendo viajado por todo o país. Conhece todos os estados e mais de mil cidades brasileiras.
Jornalista profissional, tradutor, escreveu resenhas críticas para o Jornal do Brasil, O Globo, Ficção e a revista portuguesa Colóquio. Estreou em livro em 1983, com Os intelectuais e o espiritismo, fruto de vinte anos de pesquisas, que se esgotou em poucos meses. No ano seguinte, publicou a primeira biografia do poeta Luís Delfino. No gênero biográfico, escreveu ainda Chico Xavier, uma vida de amor (1992). Como pesquisador, descobriu o primeiro livro de Cruz e Souza, Julieta dos Santos, para cuja reedição fac-similar escreveu o prefácio, em parceria com Iaponan Soares.

Comentário da Redação da Revista Universo Espírita (número 49 – ano 5 – 2008, p.10): Para o escritor e pesquisador espírita, pós-graduado em história, Luciano Klein Filho, Os Intelectuais e o Espiritismo "é leitura indispensável para quem deseja conhecer os primórdios do Espiritismo no Brasil. Garimpagem minuciosa em documentos antigos e informações extraídas de fontes raras. Vale a pena ler este livro, principalmente, para aqueles que buscam entender como se deu o desenvolvimento do movimento espírita em nosso país", recomenda. é possível entender o presente, analisando o passado.

Trechos da entrevista do jornalista, pesquisador e escritor Ubiratan Machado (Revista Universo Espírita - número 49 – ano 5 – 2008, p.9;11):

O caráter científico-filosófico empregado para a compreensão da comunicação com os Espíritos na França foi adaptado a cultura brasileira, ganhando traços místicos e religiosos segundo o jornalista Ubiratan Machado. Ele escreveu um dos mais importantes livros sobre o Espiritismo. Um resgate da trajetória dos primeiros 50 anos da Doutrina no país, fruto de um trabalho de mais de 20 anos de leituras e pesquisas.

Quando o Espiritismo chegou ao Brasil, que tipo de religiosidade ele encontrou em nossa sociedade?
O Brasil nasceu e cresceu sob o signo do misticismo e do mágico. A história não oficial do país mostra um povo cré­dulo, supersticioso, acreditando no ma­ravilhoso até o pleno delírio. Na cidade colonial, todos buscavam se defender de mau olhado, feitiços, perseguições ocul­tas. Os feiticeiros representavam um pa­pel tão importante quanto o dos padres. A imaginação - aquela imaginação que confina com a histeria, - não tinha limi­tes. Uma senhora do Recife, perseguida por uma borboleta, identificou nela uma feiticeira de suas relações. Em Salvador, um padre reconheceu em três patas que passeavam por uma estrada, três senho­ras da sociedade baiana. No século 19 o quadro não era muito diferente. Sinhôs e iaiás [moças] tremiam de medo do feitiço dos escravos. Eram comuns os fe­nómenos de assombrações, invocação de Espíritos, incorporação, recados de mor­tos. O Espiritismo encontrou, pois, um campo fértil para se expandir, com uma vantagem: era uma Doutrina de origem europeia, formulada na França, país que imitávamos em tudo e por tudo.

(...)

Por que no Brasil a Doutrina Espírita se difundiu muito mais com caráter religioso do que científico e filosófi­co, como aconteceu na Europa?
Em primeiro lugar, como já vimos, pelo misticismo do povo. Ainda hoje, o brasileiro acredita mais em sugestões mágicas do que em verdades científicas. Talvez, com alguma razão. Afinal, nos momentos de conflito pessoal ou sofri­mento íntimo, o misticismo tem sempre uma palavra de consolo e uma promes­sa de superação rápida do problema. Quem tem esperança, já tem meia cura. Um convite estimulante, quando com­parado com as respostas secas e racio­nais da ciência.

Na sua opinião, o Espiritismo brasi­leiro seria uma deformação do Espiri­tismo europeu ou teria caráter original adequado à cultura do país?
Os espíritas mais radicais e, digamos assim, elitistas, podem negar, mas a ver­dade é que, em nosso país, o Espiritismo assumiu características bem brasileiras e diversas da matriz francesa-kardecista. Menos rígido, mais efusivo, influencia­do pelo temperamento do povo, mais interessado em consolar e socorrer os que sofrem do que em pesquisar os fenómenos de maneira científica. O de­sejo de ajudar o próximo - e não apenas de convertê-lo, - é uma constante em qualquer centro brasileiro, do mais rico ao mais obscuro, de orientação kardecista ou na linhagem do Espiritismo popular, fruto do sincretismo com o catolicismo popular e as crenças mági­cas de origem negra. No Brasil, surgi­ram muitas práticas que inexistem na Europa, como a fluidificação da água, o hábito de colocar imagens de santos católicos ou de Nossa Senhora em ni­chos ou peanhas, comuns nos centros brasileiros, a invocação de entidades da terra, como caboclos, negros velhos e até sacerdotes católicos, tidos como mo­delo de virtudes.

Um comentário:

Andrew Black disse...

1 - A fluidificação da água vem dos tempos bíblicos e faz-se nos centros espíritas de todo o mundo.

2 - A "tendência para o misticismo" não é exclusivo do povo brasileiro.

3 - O autor deste texto confunde Espiritismo com Umbanda e Candomblé(igualmente respeitáveis, aliás).

4 - Não há "espiritismo popular" e "espiritismo kardecista". Só há Um Espiritismo, e o Brasil brilha pelas pesquisas científicas na área, tanto como nos aspectos morais.

5 - No Brasil, durante o período de ditadura, o Espiritismo teve que ser oficializado como religião. Inteligentemente, os candomblecistas e umbandistas registaram seus terreiros como "centro espírita", para evitarem a perseguição legal.

6 - Em Portugal tivemos menos sorte: o Espiritismo foi totalmente proibido pela nossa ditadura.

Saudações,

AA