Ubiratan Paulo Machado
Editora Lachâtre (269 páginas)
Resumo: Desde a sua primeira edição, este livro tornou-se um clássico da história do espiritismo no Brasil. Mergulhando nas origens da doutrina, nos Estados Unidos e na França, acompanha a sua introdução no Brasil, a acolhida social, as reações dos escritores, os conflitos com a igreja católica. Escrito em estilo ágil e fluente, abrange o período de 1850 aos primeiros anos do século XX. Obra de história, mas repleta de casos de petit histoire, como o interesse de Castro Alves pelo espiritismo e a curiosidade da princesa Isabel em conhecer o seu espírito protetor.
Sobe o autor: Ubiratan Paulo Machado nasceu no Rio de Janeiro. Os seus estudos primários e ginasiais foram realizados em colégios católicos. Essa educação deixou marcas profundas em sua sensibilidade, mas também lhe abriu a mente para a volúpia da contestação e a busca da liberdade e da verdade. Em sua mocidade, exerceu as mais diversas profissões, tendo viajado por todo o país. Conhece todos os estados e mais de mil cidades brasileiras.
Jornalista profissional, tradutor, escreveu resenhas críticas para o Jornal do Brasil, O Globo, Ficção e a revista portuguesa Colóquio. Estreou em livro em 1983, com Os intelectuais e o espiritismo, fruto de vinte anos de pesquisas, que se esgotou em poucos meses. No ano seguinte, publicou a primeira biografia do poeta Luís Delfino. No gênero biográfico, escreveu ainda Chico Xavier, uma vida de amor (1992). Como pesquisador, descobriu o primeiro livro de Cruz e Souza, Julieta dos Santos, para cuja reedição fac-similar escreveu o prefácio, em parceria com Iaponan Soares.
Comentário da Redação da Revista Universo Espírita (número 49 – ano 5 – 2008, p.10): Para o escritor e pesquisador espírita, pós-graduado em história, Luciano Klein Filho, Os Intelectuais e o Espiritismo "é leitura indispensável para quem deseja conhecer os primórdios do Espiritismo no Brasil. Garimpagem minuciosa em documentos antigos e informações extraídas de fontes raras. Vale a pena ler este livro, principalmente, para aqueles que buscam entender como se deu o desenvolvimento do movimento espírita em nosso país", recomenda. Só é possível entender o presente, analisando o passado.
Trechos da entrevista do jornalista, pesquisador e escritor Ubiratan Machado (Revista Universo Espírita - número 49 – ano 5 – 2008, p.9;11):
O caráter científico-filosófico empregado para a compreensão da comunicação com os Espíritos na França foi adaptado a cultura brasileira, ganhando traços místicos e religiosos segundo o jornalista Ubiratan Machado. Ele escreveu um dos mais importantes livros sobre o Espiritismo. Um resgate da trajetória dos primeiros 50 anos da Doutrina no país, fruto de um trabalho de mais de 20 anos de leituras e pesquisas.
Quando o Espiritismo chegou ao Brasil, que tipo de religiosidade ele encontrou em nossa sociedade?
O Brasil nasceu e cresceu sob o signo do misticismo e do mágico. A história não oficial do país mostra um povo crédulo, supersticioso, acreditando no maravilhoso até o pleno delírio. Na cidade colonial, todos buscavam se defender de mau olhado, feitiços, perseguições ocultas. Os feiticeiros representavam um papel tão importante quanto o dos padres. A imaginação - aquela imaginação que confina com a histeria, - não tinha limites. Uma senhora do Recife, perseguida por uma borboleta, identificou nela uma feiticeira de suas relações. Em Salvador, um padre reconheceu em três patas que passeavam por uma estrada, três senhoras da sociedade baiana. No século 19 o quadro não era muito diferente. Sinhôs e iaiás [moças] tremiam de medo do feitiço dos escravos. Eram comuns os fenómenos de assombrações, invocação de Espíritos, incorporação, recados de mortos. O Espiritismo encontrou, pois, um campo fértil para se expandir, com uma vantagem: era uma Doutrina de origem europeia, formulada na França, país que imitávamos em tudo e por tudo.
(...)
Por que no Brasil a Doutrina Espírita se difundiu muito mais com caráter religioso do que científico e filosófico, como aconteceu na Europa?
Em primeiro lugar, como já vimos, pelo misticismo do povo. Ainda hoje, o brasileiro acredita mais em sugestões mágicas do que em verdades científicas. Talvez, com alguma razão. Afinal, nos momentos de conflito pessoal ou sofrimento íntimo, o misticismo tem sempre uma palavra de consolo e uma promessa de superação rápida do problema. Quem tem esperança, já tem meia cura. Um convite estimulante, quando comparado com as respostas secas e racionais da ciência.
Na sua opinião, o Espiritismo brasileiro seria uma deformação do Espiritismo europeu ou teria caráter original adequado à cultura do país?
Os espíritas mais radicais e, digamos assim, elitistas, podem negar, mas a verdade é que, em nosso país, o Espiritismo assumiu características bem brasileiras e diversas da matriz francesa-kardecista. Menos rígido, mais efusivo, influenciado pelo temperamento do povo, mais interessado em consolar e socorrer os que sofrem do que em pesquisar os fenómenos de maneira científica. O desejo de ajudar o próximo - e não apenas de convertê-lo, - é uma constante em qualquer centro brasileiro, do mais rico ao mais obscuro, de orientação kardecista ou na linhagem do Espiritismo popular, fruto do sincretismo com o catolicismo popular e as crenças mágicas de origem negra. No Brasil, surgiram muitas práticas que inexistem na Europa, como a fluidificação da água, o hábito de colocar imagens de santos católicos ou de Nossa Senhora em nichos ou peanhas, comuns nos centros brasileiros, a invocação de entidades da terra, como caboclos, negros velhos e até sacerdotes católicos, tidos como modelo de virtudes.
Um comentário:
1 - A fluidificação da água vem dos tempos bíblicos e faz-se nos centros espíritas de todo o mundo.
2 - A "tendência para o misticismo" não é exclusivo do povo brasileiro.
3 - O autor deste texto confunde Espiritismo com Umbanda e Candomblé(igualmente respeitáveis, aliás).
4 - Não há "espiritismo popular" e "espiritismo kardecista". Só há Um Espiritismo, e o Brasil brilha pelas pesquisas científicas na área, tanto como nos aspectos morais.
5 - No Brasil, durante o período de ditadura, o Espiritismo teve que ser oficializado como religião. Inteligentemente, os candomblecistas e umbandistas registaram seus terreiros como "centro espírita", para evitarem a perseguição legal.
6 - Em Portugal tivemos menos sorte: o Espiritismo foi totalmente proibido pela nossa ditadura.
Saudações,
AA
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