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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 27 de dezembro de 2008

Painel sobre a (in)coerência da fé

O Globo, Caderno Prosa e Verso, página 4, em 27/12/2008.


Painel sobre a (in)coerência da fé

Pesquisa mostra os diversos formatos que a prática religiosa pode ter


A trajetória de nove pessoas, da infância à idade adulta, suas indagações e buscas até encontrar a tradição religiosa na qual se engajaram. As diferentes maneiras de encarar a transcendência e os diversos formatos que a prática religiosa pode ter estão no centro de “O Deus de cada um”, de Waldemar Falcão.


Um pai-de-santo criado no catolicismo acabou se desenvolvendo num terreiro de umbanda; um sheik muçulmano de família católica passou pelo espiritismo e pelo rosa-cruzismo até se envolver com o islamismo; um monge hare krishna deu muitas voltas antes de se dedicar ao hinduísmo; um monge beneditino de origem humilde permanece no catolicismo e desenvolve uma prática de intercâmbio com várias religiões.


Além desses, há também um taxista crente, fiel de uma igreja neo-pentecostalista; um engenheiro de origem judaica que professa o judaísmo; um seguidor do Santo Daime, uma monja zen e uma dona-de-casa dotada de faculdades paranormais. Todos são brasileiros, maiores de idade, conscientes de suas opções e apenas a paranormal preferiu não se identificar.


Waldemar Falcão, autor de um livro de sucesso chamado “Encontros com médiuns notáveis” (Nova Era), não embarca no proselitismo presente na maioria das obras sobre temas espiritualistas.


Em ambos os volumes, ele opta por uma postura discreta, transcrevendo entrevistas e montando-as em formato jornalístico.


Aqui, o leitor está diante de um painel diversificado sobre os motivos que levam alguém a se tornar religioso e as intensas mudanças de credo que isto envolve. O Brasil é um país místico e nele não se busca apenas, na espiritualidade, um amparo para os problemas materiais: há algo mais na construção do deus de cada um e, se por um lado, os agnósticos dizem que a hipocrisia costuma ser sinônimo de religiosidade, por outro o desejo legítimo de desenvolver uma fé e ser coerente com ela transparece na maioria das entrevistas.


É claro que funciona melhor quanto mais rico for o personagem.


O taxista, por exemplo, filho de um birosqueiro numa favela, deu muito duro na feira e não perdeu a ternura: ajuda os (ainda) mais pobres se m segundas intenções.


Seu discurso parece bem próximo da ação e seu depoimento ajuda a entender porque as pessoas se engajam em cultos como os da Igreja Universal.


Nos casos em que o entrevistado prefere não tratar de sua vida pessoal (como o do sheik) o interesse cai bastante, pois estamos diante de preceitos religiosos quase decorados de um livro, quando a proposta desta obra é tratar de histórias de vida.


Em outros momentos, os conflitos que se formam (e muitas vezes são escamoteados) nas instituições religiosas surgem com vigor. É o caso da monja Coen, que mergulhou de corpo e alma no budismo e, pela própria dimensão que adquiriu sua prática, se viu às voltas com a rigidez que permeia uma estrutura hierárquica japonesa. Aí também cabe a indagação: qualquer pessoa que pratique o zen vai vivenciar algo parecido ou isto se deu por conta da própria personalidade de Cláudia Dias Baptista de Souza, a monja Coen? Um dos casos mais curiosos é o da paranormal. Uma mulher de cerca de 50 anos, com poderes de cura intensos e comprovados, faz atendimentos individuais e, ao mesmo tempo, convive com suas capacidades e procura entender suas limitações.


A dúvida e a certeza estão presentes no cotidiano dela.


Não se pode chamá-la de charlatona, mas é preciso entender que sua condição é, talvez, diversa das demais.

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