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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 8 de novembro de 2008

'Museu da Tolerância' será construído sobre cemitério muçulmano e divide Jerusalém

Juan Miguel Muñóz

Em Jerusalém – El País, em 08/11/2008.


O venerado poeta israelense Yehuda Amichai sentenciou há 30 anos: "O ar de Jerusalém está saturado de rezas e de sonhos, como o ar das cidades industriais. É difícil respirar". Na muito tensa capital de Israel, não ajuda o sossego o faraônico e polêmico projeto financiado pelo Centro Simon Wiesenthal: a construção de um museu sobre o cemitério muçulmano mais antigo da Cidade Santa. Depois de dois anos de litígio judicial, a Suprema Corte deu a luz verde. Frank Gehry, o arquiteto contratado para levantar um edifício bem ao seu estilo, colocará mãos à obra para dar vida ao Museu da Tolerância. "Seu nome não poderia ser mais sarcástico para uma cidade onde a tolerância é zero", escreveu a crítica de arquitetura Esther Zandberg.


As lápides islâmicas ainda repousam - no prédio, entre lixos e arbustos - nesse campo santo fundado há quatro séculos. Várias organizações muçulmanas recorreram ao tribunal supremo em 2006 para impedir a construção do museu. Fracassaram. O tribunal ofereceu, entre outros, um argumento peculiar: como em 1960, quando se construiu um estacionamento em parte do mesmo local, não houve objeções, agora também não se deve impedir o projeto.


Centenas de palestinos e cidadãos árabes-israelenses, entre eles o mufti de Jerusalém, protestaram na última quinta-feira cercados por dezenas de policiais. Eles contam com um aliado circunstancial e peculiar, mas que não será de grande ajuda: os judeus ultra-ortodoxos, que consideram as tumbas sagradas.


Em 2006, quando foram iniciadas as obras, centenas de esqueletos afloraram à superfície. E, como o eterno descanso merece veneração, a decisão do tribunal concede aos administradores do museu 60 dias para enterrar os ossos em outro lugar ou instalar uma barreira que separe os cimentos do edifício das tumbas. Ninguém duvida agora que se encontrará uma solução.


Sobre 30 mil m2 e graças a um investimento de 200 milhões de euros, Gehry vai construir um museu dedicado à tolerância e à coexistência - o mais caro do mundo em uma cidade carente de recursos, das mais pobres de Israel. E sempre cercado de polêmica. Quando se apresentou a iniciativa, em 2004, o Museu do Holocausto garantiu que o genocídio dos judeus não seria abordado. Os promotores afirmam que o novo museu - que será dotado de um centro de conferências, um teatro e museus para adultos e crianças - terá por objeto as tradições judias e as relações de Israel com os países árabes. Ligações presididas por qualquer atributo, exceto o da tolerância.


O museu servirá sem dúvida para apagar mais um vestígio do passado árabe no oeste da cidade. A poucos metros do cemitério está sendo construído um hotel luxuoso em local que pertenceu ao Conselho Supremo Islâmico. Altas torres de apartamentos já cercam belas casas árabes do período otomano. Os protestos de arquitetos e urbanistas israelenses não surtem efeito. As muralhas da cidade velha, construídas no tempo do sultão Suleiman o Magnífico, são cada dia menos visíveis de Jerusalém ocidental. Um flamejante centro comercial e um bloco de apartamentos - de preços proibitivos - são um muro intransponível a dezenas de metros das muralhas.


Esther Zandberg, crítica de arquitetura do jornal "Haaretz", estima que a vida urbana no bairro de Nahalat Shiva sofrerá um duro golpe. Para rebater um dos argumentos empregados por seus defensores, ela escreveu na quarta-feira sobre o fomento ao turismo: "Jerusalém é única em si mesma, se a oferta que é realmente única for administrada adequadamente". Não parece que uma obra de Frank Gehry nem a recém-inaugurada ponte de Santiago Calatrava poderão se transformar em atrativo mais poderoso para os turistas do que as vetustas pedras que inundam a terra bíblica. Mas Zandberg teme o contrário. "O veredicto do tribunal destrói as esperanças de conter esse projeto ridículo, que afinal não é mais que uma fonte de disputa e discórdia que inflamará as chamas do ódio e dará lugar a um monstrengo no centro de Jerusalém".

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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