O Globo, Ciência, página 37, em 17/09/2008.
Criacionismo no quadro negro
Cientista britânico defende ensino 'alternativo' sobre evolução e perde emprego
O delicado debate entre ciência e religião acaba de ganhar mais um capítulo. O comentário de um renomado pesquisador inglês sobre o criacionismo abriu um racha no meio científico inglês e culminou com a renúncia do biólogo Michael Reiss, diretor de educação da prestigiosa Royal Society, a academia de ciências do Reino Unido.
Criacionismo no quadro negro
Cientista britânico defende ensino 'alternativo' sobre evolução e perde emprego
O delicado debate entre ciência e religião acaba de ganhar mais um capítulo. O comentário de um renomado pesquisador inglês sobre o criacionismo abriu um racha no meio científico inglês e culminou com a renúncia do biólogo Michael Reiss, diretor de educação da prestigiosa Royal Society, a academia de ciências do Reino Unido.
Há uma semana, durante um Festival da Ciência, em Liverpool, Reiss — que também é sacerdote da igreja Anglicana — disse ser favorável à discussão sobre todas as formas alternativas para a origem do universo — inclusive o criacionismo, que defende a idéia de que o mundo foi criado por um ser superior — nas aulas de ciência das escolas. Criticado por outros cientistas e pressionado pela sua própria instituição, Reiss, que disse ter sido mal interpretado, foi levado a abandonar o cargo, gerando mais críticas, dessa vez também à atuação da Royal Society.
Pedido de demissão gera controvérsia
Em comunicado oficial divulgado ontem, a Royal Society — que já teve Charles Darwin, o pai da Teoria da Evolução, entre seus integrantes — declarou seu apoio ao pedido de demissão de Reiss. “Comentários recentes do professor Michael Reiss sobre o criacionismo geraram muitos mal entendidos. Embora não fosse a sua intenção, isso causou danos à imagem da instituição.
Em seu pronunciamento em Liverpool, Reiss disse que, embora o criacionismo não tenha qualquer base científica, o assunto deveria ser discutido nas salas de aula porque a sua exclusão somente faria com que muitas crianças, vindas de famílias religiosas, se distanciassem cada vez mais da ciência.
A reação foi imediata. “O criacionismo se baseia na fé e não tem nada a ver com a ciência”, disse Lewis Wolpert, biólogo da University College, de Londres. Para John Fry, físico da Universidade de Liverpool, as aulas de ciências “não são o lugar apropriado para discutir uma teoria que se opõe a qualquer demonstração científica.”
Vaticano diz que Darwin nunca foi proibido
A renúncia de Reiss dividiu os cientistas. Robert Winston, do Colégio Imperial, em Londres, condenou a decisão: “Reiss estava tentando mostrar que deveríamos esclarecer os pontos polêmicos da ciência e isso deveria ser aplaudido pela Royal Society”. Para Harry Kroto, Prêmio Nobel de Química, a decisão foi acertada. “Um educador jamais poderia dar o sinal verde para que surgissem interpretações religiosas sobre a origem do universo”.
Na Itália, o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Gianfranco Ravasi, disse que não há contraposição entre a fé e a teoria da evolução de Charles Darwin, lembrando que o naturalista britânico nunca foi condenado pela Igreja.
A declaração foi feita durante a apresentação no Vaticano de um congresso que será realizado em Roma, ano que vem, sob o título “Evolução biológica: fatos e teorias. Uma avaliação crítica 150 anos após A origem das espécies”.
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