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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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domingo, 6 de julho de 2008

Valores liberais são impostos a muçulmanos

Jornal do Brasil, Internacional, em 06/07/2008.

É razoável para sociedades livres encorajar imigrantes a adotar seus próprios valores liberais. Uma exigência holandesa para que potenciais imigrantes vejam um filme descrevendo banhistas de topless e casais gays pode parecer um pouco infantil, mas não viola os direitos humanos, e pode até mesmo ajudar a preparar os imigrantes para o mundo diferente em que estão entrando. As escolas devem ensinar os valores da sociedade em que se situa, incluindo o respeito a estilos de vida diferentes.

Todavia, uma marca de sociedades seculares e liberais deve ser respeitada por culturas diferentes, incluindo culturas religiosas tradicionais – até as intolerantes. Há algo frustrante acerca de um respeito seletivo que se estende à Igreja Católica, com sua rejeição à homossexualidade e à permissão de que mulheres sacerdotes, mas exclui o Islã por sua homofobia e sexismo.

Isso deixa outra explicação mais controversa para atitudes antimuçulmanas na Europa: mesmo depois de 60 anos de introspecção sobre o anti-semitismo que levou ao Holocausto, os europeus não estão convencidos de que imigrantes com culturas e religiões diferentes devam ser tratados como membros de suas sociedades. O anti-semitismo europeu entre as guerras mundiais retratou acusações de criminalidade, intolerância religiosa, inferioridade genética e, acima de tudo, a impossibilidade de assimilação. E não é coincidência o fato de que números significativos de judeus na Europa Ocidental fossem imigrantes ou filhos de imigrantes do leste.

Os EUA tiveram seu próprio legado terrível de racismo legalizado sob a forma das leis de Jim Crow, as quais Hitler imitou em nome de seus propósitos. Após a Segunda Guerra, contudo, começamos, aos poucos e de forma agonizante, a superar esse passado. O preconceito racial ainda está presente, assim como a consciência sobre os problemas e como eles têm de ser superados.

Na Europa, o sucesso horrível de Hitler ao matar tantos judeus significou que as sociedades que se desenvolveram no pós-guerra no continente nunca tiveram de lidar com a diferença, porque estava em grande parte erradicada. Hoje, como a taxa de natalidade de muçulmanos europeus supera a dos vizinhos, é como se o desconforto da Europa com a diferença estivesse sendo encontrado pela primeira vez.

Em teoria, a Europa lembra o Holocausto. Mas a extensão dessa memória deve ser posta em dúvida quando muitos europeus parecem ter esquecido que o continente deles abrigou outros imigrantes bem antes da chegada da minoria muçulmana atual.

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