O que significa o Omer?
"Omer" era uma antiga medida agrícola. No segundo dia de Pessach, costumava-se levar ao Templo uma oferenda de um Omer de cevada recém-colhida, em comemoração do início da colheita. Daí vem o nome Sefirat Omer, a contagem dos 49 dias entre Pessach e Shavuot.
Em Pessach, comemoramos a libertação do povo judeu do cativeiro no Egito. Porém a liberdade física não é um fim em si, mas sim um meio para um fim maior: a emancipação espiritual. E esta é associada à entrega da Torá ao Povo de Israel no Monte Sinai, em Shavuot. Em outras palavras, o Êxodo marcou o nascimento dos judeus como um povo, enquanto a Revelação no Sinai forneceu ao povo recém-nascido a substância moral e ética que o sustentaria através dos tempos.
Este é o significado religioso do Omer: um período de preparo espiritual para assumir condignamente a liberdade conquistada.
De acordo com o Talmud, foi em Shavuot (6.° dia do mês de Sivan) que os filhos de Israel receberam os Dez Mandamentos no Monte Sinai. Por esta razão, o feriado é chamado Zman Matan Torateinu, o aniversário da entrega da Torá.
O nome bíblico do feriado, Shavuot, ou mais especificamente Chag Ha'Shavuot, significa "Festa das Semanas", o término da contagem de sete semanas (Sefirat Ha'Omer) que se inicia no segundo dia de Pessach.
Dois outros nomes usados na Bíblia em referência ao feriado ressaltam seu caráter agrícola: Chag Ha'Katzir, a Festa da Ceifa, e Yom Ha'Bikurim, o Dia dos Primeiros Frutos. Em comemoração ao início da colheita de trigo, levavam-se ao Templo dois pães feitos com a farinha do trigo recém-colhido e uma oferenda dos primeiros frutos da colheita.
Na terminologia talmúdica, Shavuot é também chamado de Atzeret, um nome que significa "convocação" e designa tradicionalmente o último dia de um feriado. A implicação, segundo os rabinos, é que Shavuot representa a conclusão do feriado de Pessach. Do ponto de vista agrícola, histórico e espiritual, ambos os feriados estão inextricavelmente ligados.
De acordo com o Midrash, na noite anterior à entrega da Torá no Monte Sinai, os israelitas adormeceram e tiveram que ser acordados por Moisés com trovões e relâmpagos. Para compensar o desrespeito, indiferença e insensibilidade dos nossos antepassados, para reparar aquela afronta a Deus, passamos a noite em claro, estudando, demonstrando assim que estamos plenamente conscientes da importância do evento e aguardamos com grande expectativa a Revelação. O costume tem o nome de tikun leil Shavuot, literalmente "o aprimoramento da noite de Shavuot". Os mais observantes passam a noite inteira estudando trechos dos livros sagrados - Bíblia, Mishná, Talmud, Zohar - lendo poemas litúrgicos e recitando orações. Nas comunidades mais liberais, realiza-se um Lernen de Shavuot, uma sessão de estudos ou uma discussão em grupo sobre um tema judaico de interesse geral.
Existem diversas explicações.
De acordo com a Mishná, Shavuot é o dia
As plantas lembram também a infância do personagem central no episódio da entrega da Torá, Moisés, que foi escondido por sua mãe numa cesta entre os juncos à beira do Rio Nilo.
Em algumas comunidades, o chão da sinagoga é forrado de folhas, lembrando o Monte Sinai que se cobriu milagrosamente de grama antes da Revelação, em contraste à aridez de toda a região.
Alguns enfeitam a sinagoga com flores perfumadas, simbolizando o "aroma" dos ensinamentos da Torá.
Existem diversas razões.
O Livro de Ruth descreve detalhadamente a beleza da época da colheita, que coincide com Shavuot.
De acordo com a tradição, o Rei David - que é descendente de Ruth e cujo nascimento é narrado no Livro de Ruth - nasceu e morreu em Shavuot.
A experiência de Ruth, uma mulher moabita que se converteu ao Judaísmo, se assemelha de certa forma à experiência dos israelitas, que se "converteram" plenamente à fé judaica ao receberem a Torá
Os rabinos oferecem várias interpretações para estes costumes.
Moisés passou 40 dias e 40 noites no Monte Sinai preparando-se para a entrega da Torá em Shavuot. O valor numérico da palavra hebraica "chalav", que significa "leite", é 40.
Nossos sábios dizem que os ensinamentos da Torá são "nutritivos como o leite e doces como o mel".
A cor branca do leite é um símbolo de pureza. Estudando os ensinamentos da Torá e cumprindo seus mandamentos, o homem se torna puro como o leite.
O leite é o alimento dos recém-nascidos. Comendo laticínios em Shavuot, demonstramos que estamos conscientes de quão pequenos somos diante da grandeza da Torá. E assim como o bebê aprende algo de novo a cada dia, estamos ávidos por captar cada vez um pouco mais dos ensinamentos divinos.
Além destas interpretações poéticas, existe também uma explicação de ordem prática. Somente quando receberam a Torá é que os judeus tomaram conhecimento das leis alimentares. Naquele dia não dava mais tempo de abater os animais segundo o ritual prescrito, nem de escaldar os utensílios para torná-los kasher. A primeira refeição após a Revelação, portanto, consistiu exclusivamente de leite e queijo.
Os Porquês do Judaísmo - Capítulo 9: Shavuot (Rabino H.Sobel)
São Paulo, novembro de 1993.
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