Junto com os primeiros imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil em 1908, trazidos pelo navio Kasato Maru, que atracou em Santos, estava o monge Ibaragui Nissui, representante do budismo primordial, imbuído da missão de difundir a cultura budista em terras nacionais. No ano em que se comemora o centenário da imigração japonesa no País, chega ao Brasil o monge Koyama Nitijyo Shonin, autoridade máxima dessa corrente budista, que tem cerca de 500 templos no Japão e 11 no Brasil. Shonin falou à ISTOÉ sobre a crise no Tibete, onde se pratica outra linha do budismo, e o aumento de adeptos dessa religião no mundo.
ISTOÉ - Como o sr. analisa os recentes conflitos no Tibete?
Koyama Nitijyo Shonin - É lamentável que em pleno século XXI ainda existam países que, mediante a força bruta, estejam submetidos a outros. É algo que o mundo vê, mas não toma providências cabíveis. A força política direcionada à libertação do Tibete não é a mesma utilizada em outras questões que geram grandes benefícios para outras nações. Como não há um grande capital em jogo, o interesse parece ser limitado.
Shonin - Todos cobram dos budistas reações serenas e equilibradas. O Tibete tem sido exemplo de resistência pacífica e muitas pessoas foram sacrificadas em nome disso. São anos de resistência pacífica, mas revoltas são inevitáveis quando as pessoas se sentem sufocadas. Mesmo assim, qualquer atitude violenta deve ser evitada.
Shonin - O mundo se compadecer verdadeiramente, independentemente de interesses políticos. O mundo se une em torno de uma Olimpíada, de lançamentos de informática, de carros, moda e educação. Por que não unir-se então também em torno dessa causa, independentemente das diferenças? Quando ela se tornar prioridade e isso for demonstrado pela prática, o problema, por si só, será solucionado.
Shonin - Não devemos viver uma vida de receios, e tampouco reagir com violência diante do medo. Se deixarmos de fazer o que devemos fazer por opressões, será o mesmo que ceder diante delas. Mas, se recuar trouxer paz, então recuar é o ato mais corajoso. Todavia, buscar uma solução pacífica para essa questão trará a solução para muitas outras que estão por vir.
Shonin - Ele também é um líder budista que luta com bravura a favor de seu povo. Se todos os líderes atuassem pela paz como ele, tudo seria melhor. Todavia, atuar como religioso e líder político ao mesmo tempo não é tão fácil como parece. Muitos conceitos entram em conflito, impedindo-o de agir em favor do povo. Nós, monges do budismo primordial, não podemos exercer cargos políticos ao mesmo tempo que exercemos o sacerdócio.
Shonin - A prática budista tem ajudado a desenvolver o potencial de cada indivíduo, esteja ele ligado ao meio ambiente, esteja ele em meio a um conflito ou em estado de euforia.
ISTOÉ - Qual a sua opinião sobre o fato de o budismo estar sendo cada vez mais associado à prática da ioga e à qualidade de vida?
Shonin - A flexibilidade e a adaptabilidade budista, já previstas por Buda, devem ser empregadas para levar o ser a concretizar a iluminação, e não meramente a ter apenas uma melhor qualidade de vida. Acho extremamente válidas todas as práticas e adaptações, desde que elas sigam as diretrizes de conduzir todos, sem exceção, à iluminação. Se a adaptação não trouxer esse resultado, correrá o risco de terminar em mais uma prática individualista e momentânea.
"TODOS COBRAM DOS BUDISTAS REAÇÕES SERENAS E EQUILIBRADAS"
Revista Isto É - Edição 2005 - 09 DE ABRIL/2008 por CARINA RABELO
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