D. António Vitalino, Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, rejeita que exista um “racismo generalizado” na sociedade portuguesa face à etnia cigana.
No entanto, o também Bispo de Beja, está consciente que a sociedade, por si só, rejeita “o que é diferente”, sobretudo se em causa “estão tradições e modos de viver bastante diferentes dos considerados normais”, explica à Agência ECCLESIA.
“Há vários graus”, esclarece. No nosso país “há um grau de aceitação diferente”.
Se em algumas terras “foram melhor acolhidos e aceitaram algumas normas de convivência”, em outros locais “acabaram por ficar mais em grupo”. D. António Vitalino nota que “todos os grupos que se fecham em si mesmo, são sempre alvo de atitudes marginalizantes”.
“Os ciganos, não apenas em Portugal, mas na Europa e na América Latina são um povo que não se fixou e mantém as suas tradições e é marginalizado, mas não no sentido racista generalizado”, sublinha.
O Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana assume haver em demasia um discurso de “boa vontade” que não se traduz na prática.
Em muitas áreas “os discursos ficam pela teoria”, aponta. “Mas é por aqui que tem de se começar”, indica.
O poder autárquico tem um papel fundamental nesta área, indica o também Bispo de Beja, exemplificando locais onde se fez mais e menos pelo povo cigano. "De Norte a Sul as práticas são diferentes".
A Igreja, "mais até que o Estado, sempre tentou ajudar, especificamente no que se refere à habitação”, indica D. António Vitalino.
“É certo que é preciso fazer mais”, aponta, mas indica que “deve ser de parte a parte”.
“Da aceitação do que é diferente, se deve caminhar para a convivência pacífica, para depois criar pontes”. Mas o Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana está consciente que este “é um processo muito demorado”.
A Santa Sé, num documento publicado, enfatiza as boas práticas de acolhimento e de ajuda. A evangelização é também focada.
D. António Vitalino centra esta “evangelização” não numa atitude de conversão “às nossas práticas religiosas, mas no anúncio sem cair no proselitismo”.
Durante anos os católicos focaram a assistência social e “esquecemos a evangelização”. “Devemos continuar o apoio na área social e material, onde é necessário, mas a integração deve suplantar a dimensão económica”.
Em muitos lugares a etnia cigana pede celebrações pelos “seus mortos e sacramentos, mas numa prática muito isolada”, dá conta D. António Vitalino, enunciando práticas que se desconhecem.
Os hábitos culturais são os factores que sobressaem. “Talvez em excesso”, indica, porque “esconde outros”.
“É preciso ir mais além”. Os que estão envolvidos na Pastoral dos Ciganos “devem unir forças, pois todos somos poucos”.
A união das forças passa agora pelo Director da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos. O Pe. Francisco Sales, Director também da Obra Católica Portuguesa das Migrações assume agora a ONPC. “Será um esforço conjunto”, esclarece D. António Vitalino.
Extraído de:
Agência Ecclesia, em 08/04/2008.
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