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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 8 de março de 2008

Textos irreverentes destacam a sabedoria da tradição árabe

Título: Histórias para ler sem pressa

Autor: Anônimo
Editora: Globo
Gênero: Literatura Estrangeira Narrativa
Tradutor: Mamede Mustafa Jarouche
Páginas: 80
ISBN: 978-85-250-4384-9

Leia aqui uma entrevista exclusiva com o tradutor

Leia aqui uma entrevista exclusiva com o ilustrador

Leia aqui um trecho do livro


Livros - Crítica /"Histórias para Ler sem Pressa"

Textos irreverentes destacam a sabedoria da tradição árabe
Coletânea apresenta 30 narrativas curtas produzidas entre os séculos 8 e 18


NOEMI JAFFE

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA (FSP, Ilustrada, em 08/03/2008.)

Conta-se que o padre Antônio Vieira escreveu, numa carta a alguém: "Desculpe, mas não tive tempo de escrever-lhe uma carta mais curta". Algo semelhante acontece na leitura destas "Histórias para Ler sem Pressa", traduzidas da antiga sabedoria árabe por Mamede Mustafá Jarouche.

São 30 histórias, todas muito curtas, para ler com toda a lentidão possível. A sabedoria, mais do que a inteligência, é também uma virtude, próxima de outras como a prudência, a tolerância e a generosidade. E, como elas, desenvolve-se a partir de experiência, intuição, algum senso de espiritualidade e uma visão muito mais generalista do que particular. Tudo isso exige tempo.

De quem pronuncia a sabedoria e de quem a escuta, porque a sabedoria tem a ver com ação, juízo; é a "moral do equilibrista", como diz André Jolles no livro "Formas Simples". E a economia destas histórias é justamente a economia modelar dos sábios, que, com algumas palavras exemplares solucionam revezes e abrem portas labirínticas.

Irreverência
São 30 histórias extraídas de fontes que vão do século 8 ao século 18, de textos com nomes como "O Livro das Grandes Categorias", "O Livro dos Inteligentes", "O Cúmulo da Sagacidade nas Artes do Decoro" e "O Livro dos Idiotas e dos Néscios".

Nelas comparecem os famosos avarentos, os ridículos ostentadores, o bobo necessário, o esperto que se dá mal no final.

Todos eles desmoralizados por seus opostos, os justiceiros, os generosos, os incorruptíveis, os justos. Tudo com uma simplicidade e polaridade alentadoras para tempos de tantos relativismos, sem, entretanto, cair na austeridade dos juízos morais.

Ao contrário.

Quase todas as histórias do livro são irreverentes, algumas até lembrando personagens brasileiros como o conhecido malandro. E é também surpreendente perceber como os valores da cultura árabe se diferenciam alegremente da moral cristã: nestas histórias, valores como culpa, pecado, punição e vergonha surgem com pesos completamente diferentes daqueles que estamos acostumados a ler nas parábolas do cristianismo.


Verdade na forma
A verdade, às vezes, parece localizar-se muito mais na linguagem e na forma de dizer as coisas do que em alguma essência última. Assim, quem sabe falar melhor muitas vezes se dá melhor, como na história do "Juiz Austero e do Juiz Ligeiro" ou em "Asnos por Testemunhas". É uma moral muito mais pragmática, afinal de contas.

Trata-se de como e por que agir de determinadas formas, em determinadas circunstâncias da vida cotidiana. E isso parece excluir o "ofereça a outra face" em favor de atitudes de mais desconfiança e cautela.

Por exemplo, diante de intrigueiros, são necessárias algumas atitudes como "não acreditar". Advertir o intrigante e torná-lo detestável perante Deus. Afinal, sabedoria é juízo, é siso, mas se dizem que onde tem muito riso, falta o siso, não é o caso deste livro, que, além de fazer pensar, também nos faz rir.

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